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Negin Khpolwak, a jovem afegã que é maestrina

Negin Khpolwak

Negin Khpolwak, a jovem afegã que é maestrina

by Eduardo Aranha

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O Afeganistão costuma estar nas bocas do mundo mas não pelos melhores motivos. Neste post, no entanto, contamos uma história mais animadora e repleta de música. Embora muitos não saibam, os Talibãs baniram, durante muitos anos, o ensino musical e a educação das raparigas afegãs. Esta restrição, que parece ridícula para qualquer ocidental, continua a ser aplicada a muitas mulheres no Afeganistão.

Porém, uma jovem rapariga com 17 anos tornou-se recentemente na primeira maestrina do Afeganistão. Como é que isto aconteceu? É essa mesma história que contamos nos parágrafos seguintes.

Negin Khpolwak: encontrar música em Cabul

Tudo acontece no Instituto Nacional de Música do Afeganistão. Este instituto fica num dos bairros mais tranquilos de Cabul e conta com aproximadamente 200 jovens que, diariamente, aprendem a tocar instrumentos da tradição ocidental e afegã.

Fundada em 2010 com a a ajuda do World Bank, conta com músicos provenientes de inúmeros países, entre os quais os Estados Unidos, Austrália, Rússia, Colômbia, Índia e, claro está, do próprio Afeganistão. Focando-se em estudantes provenientes de estratos mais desfavorecidos, procura promover o ensino e a cultura.

É aqui que uma jovem afegã, Negin Khpolwak, estuda música. Vinda de uma família pobre da província de Kunar – uma área conservadora e fulcral na insurgência dos talibãs – tudo o que esta jovem artista quer resume-se a “vir a ser uma excelente pianista e maestrina, não só no Afeganistão, mas no mundo inteiro”, como contou em entrevista à jornalista da BBC.

Ao contrário de outras raparigas da sua cidade, Negin teve a sorte, aos 9 anos, de deixar a província e mudar-se para Cabul. Ainda que longe da família, este era o preço que precisava de pagar para receber  uma educação qualificada. Porém, aquela que deveria ser uma educação genérica, acabou por se cruzar com a música.

Numa cidade onde o som das pás dos helicópteros, o som de sirenes e os ruídos do trânsito se fazem ouvir com frequência, há também música. Foi aqui que Negin ouviu música pela primeira vez e teve a oportunidade de assistir a atuações musicais na televisão. Mais do que gostar, imaginou como seria percorrer um caminho por essa vertente artística. Fez então uma audição para entrar no Instituto Nacional de Música do Afeganistão onde está há 4 anos. Apenas um quarto dos estudantes é do sexo feminino.

   

Negin Khpolwak: os pesadelos no sonho

Este, no entanto, não foi um sonho fácil de alcançar. De acordo com as leis e tradições afegãs, como mencionamos acima, o direito da mulher ao ensino e à música não é bem aceite. “As raparigas em Kunar não vão à escola e muitas delas não são autorizadas pelas suas famílias a estudar música”, contou Negin Khpolwak na mesma entrevista à BBC. “Portanto, tive de vir para Cabul para concretizar o meu sonho. O meu pai ajudou-me.”

A mãe, apesar de ter ficado satisfeita por ver a filha na escola, não apoia a sua educação musical. E não é a única.

“O meu tio disse-nos ‘Nenhuma rapariga da nossa família deve aprender música. É contra a tradição’”, contou Negin Khpolwak. Estas complicações familiares obrigaram-na mesmo a afastar-se do Instituto durante seis meses. Eventualmente, o pai de Negin interviu para que a filha voltasse a estudar aquilo de que realmente gosta.

Ao prosseguir com os seus estudos na área da música, Negin Khpolwak tornou-se já uma hábil pianista e conduziu, em novembro de 2015, o seu primeiro concerto perante uma sala repleta de público. Este foi um momento emocionante, especialmente tendo a conta a quantidade de pessoas que se reuniu para a ver como maestrina.

“Eu quero que o Afeganistão seja como muitos outros países no mundo, onde as meninas se podem tornar pianistas e maestrinas”, expressou a jovem Negin. Entretanto, o Instituto, representado pelo seu diretor, tenciona manter-se como um foco de cultura e esperança no meio do tumulto que é Cabul. “A Negin e outras como ela inspiram-me pela sua coragem, apesar de todas as dificuldades!”, disse o diretor do Instituto à BBC.

Em fevereiro de 2013, Negin Khpolwak foi escolhida para representar o Instituto numa visita aos Estados Unidos, onde atuou no Carnegie Hall, em Nova Iorque, tocando o sarod, um instrumento tradicional afegão.

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