Cavaquinho: as quatro cordas que chegam do Minho ao Havai
De 4 cordas e 12 trastos, o cavaquinho não se tem mantido calado, digam por aí o que disserem. Muito pelo contrário: além de estar na moda (por muito estranho que isso possa parecer para alguns), o pequeno instrumento visto muitas vezes como brinquedo está a fazer sucesso tanto em Portugal como lá fora, ao ponto de ser utilizado como peça central de um álbum inteiro de Eddie Vedder.
Também chamado de braguinha, braga, machete e, lá fora, ukulele, o cavaquinho é português independentemente do nome que lhe derem ou da forma como o tocarem. Da família dos cordofones, consta-se que nasceu no Minho, a norte de Portugal. Apesar das circunstâncias de tal origem estarem envoltas em especulação, há certeza de uma coisa: o cavaquinho foi e ainda é um sucesso, caso contrário não se teria integrado nos sambas do Brasil, nos calores de Cabo Verde e entre as ondas do Havai.
Neste post, abrimos o baú e sacudimos o pó do cavaquinho, para conhecermos tudo o que existe sobre a sua história e descobrir quem é que ainda hoje faz do instrumento seu amigo.
Cavaquinho: de onde veio e porquê tanto sucesso?
Se tentarmos traçar uma cronologia à vida do cavaquinho, podemos chegar à antiga Civilização Grega, com as suas liras e cítaras de cordas, trazidas até à remota Península Ibérica pelas tribos celtas. Porém, o cavaquinho como o conhecemos hoje, com a forma característica de uma guitarra em miniatura, remonta à cidade de Braga.
No século XV, as caravelas dos descobrimentos levaram o cavaquinho às costas africanas e, eventualmente, ao Novo Mundo para lá do oceano Atlântico. Ao Havai, também chegou algures no final do século XIX, pelas mãos de emigrantes lusitanos. Perceber de onde veio e como chegou a todo o mundo não é difícil.
Mas porquê tanto sucesso? Além de proporcionar uma música mais solta e alegre, o cavaquinho é pequeno, simples de transportar e, por ter apenas quatro cordas, torna-se extremamente fácil de aprender. A afinação é também muito simples, estando normalmente afinada para ré-si-sol-ré.
Quem toca cavaquinho por esse mundo fora?
Mais recententemente, a popularidade do cavaquinho é atribuída a Israel Kawakawiwo’ole. Falecido em 1997, o artista havaiano é hoje recordado pelo êxito que junta dois clássicos musicais: Somewhere Over The Rainbow/What a Wonderful World. Gravada para o álbum Facing Future, lançado em 1993, a faixa só obteve o seu grande sucesso quando usada em bandas sonoras de filmes e rádios. Não bastando a letra das icónicas músicas imortalizadas por Judy Garland e Louis Armstrong, o havaino recorreu ao cavaquinho – chamado ukulele no Havai – para dar vida ao medley.
A canadiana Nelly Furtado, filha de emigrantes açoreanos, aprendeu a tocar cavaquinho aos nove anos e não é a única desta geração de artistas a recorrer ao pequeno instrumento. Em entrevista à Rolling Stone, a artista country norte-americana Taylor Swift, conhecida por hits como Shake It Out e Blank Space, revelou que ‘o ukulele pode trazer dimensões diferentes a uma canção’ e que ficou absolutamente rendida ao som do instrumento.
Hey Soul Sister, dos Train, foi um dos maiores êxitos do verão de 2011 e começa com os acordes distintos do cavaquinho, o instrumento que determina a harmonia dos quase 4 minutos da faixa. E até mesmo Zacahary Condon, dos Beirut, se rendeu ao ukulele mais por necessidade do que por curiosidade e acabou absolutamente fascinado. Confrontado com uma lesão no pulso, decidiu substituir temporariamente a guitarra pelo ukulele e o resultado foi incrível.
E não nos podíamos esquecer de Eddie Vedder. A mesma voz que dá alma aos Pearl Jam e que adora surfar entre as ondas da costa portuguesa, lançou-se a solo em 2007 e editou, desde então, um segundo álbum onde usa maioritariamente o ukulele, não fosse o nome do álbum Ukulele Songs. Com uma mistura de temas originais e covers, Vedder tenta fazer de novo magia em forma de música e consegue provar a sua mestria.
E o cavaquinho em Portugal?
Não há cavaquinho em Portugal sem Júlio Pereira. O músico português conta com uma discografia repleta de cavaquinho, com álbuns com Cavaquinho (1981) e Braguesa (1982), isto para não falar das colaborações em discos de Carlos do Carmo, Zeca Afonso e Fausto. Mais do que usar o instrumento para criar música, Júlio Pereira tem-se esforçado para promover o cavaquinho a nível internacional, mostrando a sua versatilidade.
O cavaquinho é uma arte que esbanja melodias. Dá para fazer samba, MPB e muito mais. Adoro mesmo. Fico muito grato quando vejo matérias que contam um pouco da historia desse instrumento maravilhoso.