Carlos do Carmo: o artista que deu ao fado um Grammy
Com mais de 50 anos de carreira, Carlos do Carmo continua a ser uma presença assídua dos palcos portugueses e internacionais. Com a sua voz marcante, faz-se acompanhar das guitarras e tonalidades várias para levar o fado ao mundo, com um misto de espírito português e um toque muito latino.
Em 2014, chegou talvez o maior reconhecimento alguma vez atribuído ao artista: um Grammy por “Lifetime Achievement”. Para quem não conhece, este é um prémio entregue aos artistas pela obra que produziram ao longo da carreira e não pelo sucesso alcançado por um trabalho único, seja música ou álbum. Mais do que uma honra para o artista, provocou uma enorme onda de orgulho nacional.
(Em 2017 foi a vez de Carlos do Carmo rejubilar com a vitória de Salvador Sobral no Festival Eurovisão da Canção).
Como que para confirmar o sucesso de , no mesmo ano chegou outro prémio, desta vez o Grammy Latino de Carreira. Para celebrar, a Rádio Comercial organizou uma belíssima homenagem em vídeo, que contou com a colaboração de 35 artistas nacionais, que juntos prestam a homenagem a Carlos do Carmo com uma interpretação de “Lisboa Menina e Moça”.
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Em 2002, altura em que Carlos do Carmo se preparava para celebrar o seu 40.º aniversário de carreira, chegou ao mercado nacional o seu trabalho . Aplaudrido pela imprensa, o álbum foi considerado pelo próprio artista como “o primeiro de uma nova vida”. Entre as dez faixas que compõe o álbum, estão reunidos alguns dos autores que lhe permitiram cantar os melhores fados da sua carreira.
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Carlos do Carmo: uma sessão no NorteShopping onde faltou voz mas não música
Neste post, recordo uma tarde de 2002, no fórum da Fnac do Norteshopping, onde me juntei a uma audiência preparada para receber um dos maiores nomes do fado. Lembro-me que, por motivos de saúde, o fadista não pôde deliciar o público com a sua voz, mas se não cantou, melhor o fez. Com um humor acutilante de alguém que já não precisa ou nunca precisou de fazer fretes para vender discos, as suas primeiras palavras foram: “Odeio chegar atrasado, mas fiquei preso no trânsito”, para logo acrescentar que adora o Porto mesmo “sendo um mouro assumido”.
Para o fadista a Invicta era – e suponho que ainda continue a ser – a cidade onde mais gosta de cantar o fado, muito por causa da genuinidade das suas gentes. “Um artista quando canta no Porto sabe sempre o que lhe vai acontecer: ou leva com tomates podres ou gostam muito dele. Como me habituei ao longo da minha carreira a que gostassem muito de mim, o Porto torna-se especial por isso”.
Apesar do cansaço evidente, estava preparado para satisfazer a curiosidade dos presentes e a primeira pergunta prendia-se com a escolha do título do álbum acabado de sair. Para espanto de todos, o fadista chamou Rui Veloso de “caloteiro”. Não se espante, porque a explicação nada tem a ver com dinheiro, mas sim com um fado que já está prometido há 18 anos, mas “que o malandro ainda não mo deu”, explica sorridente.
Para este novo trabalho Rui Veloso enviou-lhe uma canção, “Sombra do Desejo”, que quem estava no fórum da Fnac teve o prazer de ouvir, pois entre palavras e risos, tocavam alguns temas que tornaram este convívio muito mais interessante.
Como é do conhecimento público, nomes como Carlos Mendes, Joaquim Pessoa e Ary dos Santos, foram alguns dos poetas interpretados por Carlos do Carmo, que não deixou de evidenciar o nome de Frederico de Brito. Se para o fadista cantar Ary dos Santos é estar sempre actual, porque “este era um poeta que escreveu para amanhã e é para mim a referência do salto”, Frederico de Brito foi aquele que descreveu de uma forma sublime, em fado, o 25 de Abril, caracterizado como sendo “a essência do fado e o respeito pela grande tradição”.
Na conversa, falou ainda da nova geração de fadistas. Na altura, apontou Camané como o fadista que daria continuidade ao fado, remetendo para as mulheres uma maior responsabilidade, porque mesmo tendo excelentes vozes “falam constantemente da Amália e querem cantar como ela. Por isso têm primeiro de encontrar o seu caminho, porque como Amália ninguém canta”.
Durante o encontro, teve ainda tempo de confidenciar à audiência que, quando selecionou os dez temas, se encontrava em convalescença e, talvez pela sua fragilidade, a escolha fizesse uma abordagem à vida e à morte. “Talvez vez hoje a escolha tivesse sido diferente”, concluiu, naquele dia, com uma perspetiva muito mais otimista.