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Mariza: a história da voz mais sonante do Fado contemporâneo

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Mariza: a história da voz mais sonante do Fado contemporâneo

by Goreti Teixeira

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Nasceu em Moçambique em 1973, mas vive em Portugal desde os três anos. Mariza contactou com o Fado directamente na Mouraria, onde cresceu. As suas primeiras impressões registam uma silhueta que cantava, transmissora de uma emoção que os seus poucos anos não poderiam definir, mas que lhe suscitou uma vontade enorme de experimentar. Assim, aos cinco anos aprendia letras através de autênticas bandas desenhadas feitas pelo pai e participava já, ocasionalmente, em sessões de Fado.

Aos primeiros contactos de infância, sucedeu-se a natural incursão noutros géneros musicais própria da ânsia de experimentação da adolescência. Cantou Gospel, Soul e Jazz, Bossa Nova.

Na sua estadia de cinco meses no Brasil, no ano de 1996, Mariza revisitou o prazer de cantar Fado e descobriu algo mais dentro de si. Impôs-se então a primeira paixão e, quando se apresentou no Canadá, dois anos mais tarde, foi já como fadista que subiu aos palcos.

Em 1999, a atenção do grande público foi despertada pela sua participação nas homenagens a Amália Rodrigues, nos Coliseus de Lisboa e Porto, transmitidas em directo pela TVI: a voz, relação com o palco, magnetismo e imagem (cabeleireiro Eduardo Beauté, e o costureiro João Rôlo) despoletaram convites para participações em programas de televisão, com destaque para a transmissão do espectáculo a propósito da visita do Papa João Paulo II. O programa HermanSic, convidou-a a interpretar “Povo que Lavas no Rio”, na presença de Sting.

Em 2001 lançou o seu primeiro CD Fado em Mim. Inicialmente perspectivado como uma edição privada, e produzido por Jorge Fernando, viria a ser editado em 32 países pela editora holandesa World Connection, com distribuição em Portugal da EMI-VC.

A biografia de Mariza através dos seus álbuns

Álbum Fado em Mim

Tudo começou com o seu primeiro CD, Fado em Mim, editado em 2001, que depressa conduziu a numerosas apresentações internacionais de grande sucesso – o Festival de Verão do Québec, em que recebeu o Primeiro Prémio (Most Outstanding Performance), o Central Park de Nova Iorque, o Hollywood Bowl, o Royal Festival Hall, o Festival Womad – e que acabou por lhe conferir o prémio da BBC Rádio 3 para o Melhor Artista Europeu na área da World Music.

Fado em Mim era um primeiro álbum entusiasmante, mostrando uma jovem cantora com uma voz cheia e vibrante e um a forte personalidade artística. Cantava ainda vários sucessos do repertório de Amália, mas a sua abordagem à herança da grande diva do fado era já tão pessoal que podia facilmente afastar de si qualquer sugestão de mera imitação.

Álbum Fado Curvo

Em 2003 surgiu o seu segundo álbum, Fado Curvo. Era claramente um passo em frente no processo de reforço do seu estilo pessoal e do seu repertório próprio, com a ajuda de arranjos excelentes de Carlos Maria Trindade. Amália estava ainda presente, com a sua emblemática Primavera, sobre poema de David Mourão Ferreira, mas também o estava o cantor de intervenção José Afonso, um ícone da oposição democrática ao regime de Salazar nos anos 60 e 70, e muito do restante material era novo e inspirado.

Fado Curvo acabaria por chegar ao 6º lugar na tabela Billboard da World Music e por ganhar o Deustche Schallplattenpreis e o European Border Breakers Awars, atribuído no MIDEM de 2004. As apresentações públicas de Mariza multiplicaram-se, com grandes triunfos pessoais no Royal Festival Hal de Londres, na Alte Oper de Frankfurt, no Théâtre de le Ville de Paris, no Walt Disney Concert Hall de Los Angeles (com a Orquestra Filarmónica de Los Angeles), no Teatro Albéniz de Madrid ou no Teatre Grec de Barcelona.

Álbum Transparente

   

2005, ano em que recebeu o Prémio de Melhor Intérprete da Fundação Amália Rodrigues e foi nomeada Embaixadora de Boa Vontade da UNICEF, seria para Mariza um ano particularmente notável no plano artístico, com a saída do seu terceiro CD, Transparente.

Neste álbum emergiria uma sua faceta nova e mais madura, tão segura dos seus dotes vocais que podia agora dar-se ao luxo tanto de sussurrar e de cantar baixinho como de demonstrar os seus plenos poderes, construindo o clímax de cada frase de um modo que impressionava pela serenidade e pela inteligência, articulando o texto de uma forma ainda mais expressiva.

Soube encontrar a oportunidade para homenagear três grandes fadistas com os quais sente profundas afinidades artísticas e pessoais: Amália, cujo Segredo, de Reinaldo Ferreira e Alain Oulmain, fora o último original lançado em sua vida; Fernando Maurício, recentemente desaparecido, que o público popular de Lisboa aclamava como “O Rei do Fado” e com quem ela própria cantara por diversas vezes no bairro da Mouraria em que ambos viviam; e Carlos do Carmo, cujos conselhos Mariza sempre reconheceu como um importante factor formativo na sua personalidade artística e ao qual se dedicava uma versão muito afectuosa de um dos seus maiores sucessos, Duas Lágrimas de Orvalho.

Álbum Terra

Também em 2008 surgiu o seu quarto álbum, Terra com direcção musical de José Limón, reunindo o novo repertório que interpretara nas suas digressões mais recentes, com sucessos como Alfama e Rosa Branca e parcerias com Tito Paris, Concha Buika, Ivan Lins e Dominic Miller.

Álbum Fado Tradicional

E 2010 seria o ano de um projecto muito especial, o álbum Fado Tradicional, no qual Mariza reafirmaria a sua ligação à tradição mais autêntica do Fado clássico regressando a alguns dos mais destacados compositores da história do género, como Alfredo Marceneiro, ainda que com uma abordagem interpretativa assumidamente individual e contemporânea. Nesse mesmo ano seria condecorada pelo Governo francês com o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras.

Mundo

Produzido por Javier Limón, vencedor de vários Grammy Awards, “Mundo” é o seu primeiro disco novo em cinco anos. O que resta depois de se ter dado a volta ao mundo? Há 14 anos, quando uma jovem cantora lançou o seu primeiro disco, poucos acreditariam que a viagem então começada teria sido tão longa e teria ido tão longe.

E mesmo o sucesso obtido por essa estreia, Fado em Mim (2001), não faria forçosamente prever o que se seguiu. A viagem ultrapassou todas as expectativas – e ao regressar a casa, já não se é a mesma pessoa que se era aquando da partida. Mas isso será mesmo verdade? Já não se é a mesma pessoa? Esta é a resposta de Mariza: abrir um novo álbum com uma afirmação inteira de quem se é, de onde se partiu – “Rio de Mágoa”, fado mais clássico não há – e a partir daí, encetar uma viagem que espelha o mundo que se conheceu desde então.

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