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Cadê o cartucho? Descubra a história nunca contada!

Cadê o cartucho? Descubra a história nunca contada!

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Quem não paga Spotify (pff… seus trastes!) decerto já se deparou com o Vítor Moura de serviço a dizer que “podias estar a ouvir um cartucho, se sabes o que isso é”. Um pouco presunçoso o Vítor Moura de serviço da Spotify, não acham?

Ora este é um artigo que responde ao Vítor Moura de serviço, que vai directo ao dói-dói: o que raios é e o que faz – ou fazia… – um cartucho?

Se pagam Spotify nunca ouviram isto nem outra frase qualquer do Vítor Moura de serviço e podem passar para o próximo artigo porque este não acrescentará nada durante os próximos ‘cartuchos’.

Cartucho, a história nunca contada

Não é bem assim. Na verdade, está (quase) tudo aqui. Só que eu não sou cá das preguiças e gosto de lançar a confusão.

Ora, em teoria, o cartucho teve tudo para dar certo. Era portátil, podia ser levado para qualquer lado, no carro ou nas boom boxes. Houve quem acreditasse que poderia ser o substituto natural do vinil (isto durante os anos 60-70 e picos, btw).

Dez anos depois, chapéu.

Virou anedota. Uma tecnologia extinta, ultrapassada, sem graça, tipo uma troca de cartas de amor entre Salazar e Thatcher. Pífio… muito pífio o cartucho.

Algumas razões para o fracasso

O cartucho não tinha mau som. Ora sintam só o poder do mambo.

 

Ou

 

A questão era:

1 – A qualidade dos componentes: igualmente pífios. Numa lógica ‘bloco de cócó feito para durar’, a durabilidade impôs-se claramente à fiabilidade da cousa e, apesar do cartucho aguentar a exposição ao sol e as quedas do costume, o cartucho novinho em folha e com um som do caraças rapidamente ganhou a reputação de bomba-relógio;

2 – Reputação da reprodução: não era de todo a melhor. Acuse-se o primeiro rádio que nunca comeu, enrolou, mastigou, ruminou para mais tarde regurgitar Todo o áudio de um cartucho. A lenda ganhava contornos de mito: que “naco de trampa que é esta coisa do cartucho pá”;

3 – Devido às restrições técnicas, o cartucho estava ‘limitado’ a quatro faixas (cada uma em estéreo, o que noves fora dá 8). Isto quer dizer que as faixas tinham de ter Exactamente a mesma duração, o que era uma chatice do caraças em relação aos vinis, por exemplo. Assim, tínhamos fade out obrigatório e irritante nas partes preferidas das nossas músicas. Porque o cartucho “é uma burrice pá, mais vale ouvir rádio ou vinil, caraças pá”.

 

 

Não foi o Tony, foi o Tucho

4 – O cartucho foi a primeira cena que permitiu a gravação Simples de qualquer mambo na fita. Sim, estamos a falar de pirataria. Sim, estamos a falar de Lars vs Napster gone 60s.

A modos que isto é mais Sinatra ou Lennon a pararem para meter gasolina e enfiar tacos de beisebol e cocktails molotov (sim, bei, Basebol porquê, eles servem copos é?) pelas prateleiras de cartuchos com “Lennon Live na Esquina” ou “Sinatra E Ojamigos ao vivo no Café do Aires”.

Apesar das K7s, anos mais tarde, terem levado ‘porrada’ neste departamento, quem absorveu o impacto inicial de “isso é piratas pá, quem anda nisso e ouve isso é pirata” foi o vosso amigo cartucho. Pioneiro! Pioneeeeeeiro!

 

Faltou glamour ao bicho

5 – Sim, faltou bem mais que isso. Rebobinar, seria fixe! O cartucho, já aqui foi dito, era Duracell > Apple, era Toyota > Bang & Olufsen, ou seja, qualquer elemento decorativo, qualquer docinho para o utilizador em termos de design de capa, inlay, booklet ou qualquer outro detalhe que nos distraísse da miséria de material que acabávamos de comprar estava em falta.

A caixa era à prova de armagedão. O resto levava um autocolante manhoso e… siga para bingo.

Isto fazia com que as colecções de cartuchos não fossem dignas de ser filmadas. Nem que os seus coleccionadores se chamassem Nuno Markl ou António Freitas.

 

No fundo, faltou “um resto de tudo”

6 – E também faltaram cartuchos de João Pedro Pais, como é óbvio.

Mais óbvio é: faltou Imeeeeensa coisa para o cartucho dar certo numa base constante.

A experiência de audição era medonha (faixas comidas, cabeças desalinhadas que misturavam as pistas, enfim, uma alegria), a reputação de ‘mambo pirateiro’ não foi propriamente um selo de fiabilidade – apesar de apelar ao hipster e ao punkster – e o facto de não ter impactado uma Europa sempre mais conservadora nestas andanças atrasou a afirmação tecnológica do cartucho.

Foi-se perdendo lentamente com o passar dos anos e com o surgimento de novas formas de ouvir música. Até que disse ‘auf wiedersehen goodbye’ lá para meio dos anos 70.

 

 

Glory Days

A música é dos 80s mas este top do cartucho é absolutamente intemporal.

   

Foi votado pela comunidade ‘cartucheira’ (eles andam aí!) e então temos que:

Sex Pistols - Never Mind the Bollocks: Here’s the Sex Pistols

Lou Reed - Metal Machine Music

George Harrison - Cloud Nine

Yardbirds - Live Yardbirds! Featuring Jimmy Page

The Flatlanders - The Flatlanders

Boston - Boston

Pink Floyd - Animals

Frank Sinatra with Antonio Carlos Jobim - Sinatra Jobim

Alan Price - Savaloy Dip 

The Beatles - Alpha Omega

Frank Zappa - Lumpy Gravy

Nada mau para um cartucho que só comia músicas, hem?!

E este top de menções honrosas?

 

Nirvana, por Nirvana

Ao contrário do que possam pensar, Nirvana foi uma banda inglesa dos anos 60. Uma das faixas do cartucho chamava-se Illinois. O que leva à questão pertinente do membro da comunidade, Tom Fornof, “porque é que estes palhaços de Inglaterra estão a escrever/cantar sobre o Midwest?!”.

Apesar disso, Tom reconhece que “o programa 4 tem uma boa música”.

 

At Budokan, por Cheap Trick

 


Considerado um dos melhores cartuchos de SEMPRE, o concerto gravado em Abril de 1978 catapultou os amigos de Rick Nielsen para a fama pouco depois de ter sido lançado.

 

Yellow Submarine, por The Beatles

Este cartucho tinha gomas: Lucy in the Sky with Diamonds era uma faixa bónus, o que não acontecia em qualquer outro formato. Mais tarde nesse ano (1970) a Capitol ‘reparou’ e relançou o cartucho com o alinhamento… alinhado com os outros formatos disponíveis e tal.

 

Revisão da matéria dada

Isto vai de ciclos.

Do cartucho ao streaming deu muita coisa. A geração walkman. Os fanáticos do vinil. Já ouvimos imensa música numa plêiade – ui, bem gordinha a sonoridade da palavra plêidade, hem? – de formatos: ele é cartucho, ele dá vinil, vai dar K7, toca CD, bomba mini-disc, solta aí SACD, grava DVD-Audio, reproduz mp2, lê mp3, manda .flac.

No fundo, depende dos gostos, das colecções, dos ouvidos.

Gostem de Skrillex em vinil ou de Miles Davis em streaming, o que interessa é que… pelo menos já sabem o que é um cartucho.

Quanto aos anúncios do Spotify, já sabem…

 

 

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