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In2TheSound no Hard Club: Porto celebrou Adrian Borland e The Sound

In2TheSound no Hard Club: Porto celebrou Adrian Borland e The Sound

by Pedro Vasco Oliveira

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O ano de 2019 marca duas décadas que Adrian Borland deixou o reino dos vivos. O mundo da música perdia um dos mais geniais compositores do seu tempo, curiosamente, a época dourada do rock.

Chamaram-lhe pós-punk e new wave, mas, tal como o próprio Borland disse a Júlio Isidro, em 1985, “é simplesmente rock”.

Falo-vos deste génio atormentado que foi Adrian Borland porque o Porto reviveu e celebrou apaixonadamente a sua existência e, em especial, a sua música, imortalizada, essencialmente, pelo que fez com os The Sound.

A proposta da promotora At The Rollercoaster era simples: visionamento do documentário Walking in the opposite direction, realizado por Marc Waltman e produzido por Jean Paul Van Mierlo, um retrato sincero e fiel àquilo que foi a vida atormentada, mas também genial, de Adrian Borland; seguido de concerto pela banda tributo aos The Sound, de seu nome In2TheSound, que apresenta como selo de garantia a presença na bateria de Mike Dudley, co-fundador dos The Sound.

Como diria o outro, “é melhor do que nada”!

Os The Sound tocaram uma vez em Portugal, no Rock Rendez Vous, em 1984, e passaram por cá novamente no ano seguinte, mas apenas para uma promoção televisiva no programa Acabou-se o Arroz Doce, apresentado por Júlio Isidro.

Ora, para quem tem os The Sound no topo das escolhas musicais e nunca os viu ao vivo poder ouvir a sua música ao vivo, mais de 30 anos depois, e com um selo de garantia… tem que se dar por satisfeito. Serviu, pelo menos, a muitos para desatar um nó antigo.

Antes da coisa acontecer, a expectativa era grande. Este vosso devoto escriba não é grande fã de bandas tributo. Ainda para mais quando a voz não é a do verdadeiro vocalista. E, no caso em apreço, os The Sound são, seguramente, 70% (se não mais!) um feito de Adrian Borland, afinal o gajo que todos estavam ali para celebrar.

Mas foi bem. Aliás, foi muito bem. A festa aconteceu, o público, sedento, correspondeu e, no final, o vocalista Marco van Putten confessou que o concerto tinha sido a melhor recepção já que tiveram. “Porto rules”, escreveria mais tarde num autógrafo.

Walking in the opposite direction: um documentário excepcional sobre Adrian Borland

Mas voltemos ao documentário que retrata as diversas fases criativas de Adrian Borland, dos The Outsiders aos White Rose Transmission, passando obviamente pelos The Sound, afinal, a razão pelo qual o seu nome está escrito nas estrelas.

O retrato do constante jorro criativo de Borland é acompanhado pelo enquadramento pessoal e psíquico de Adrian, passando a imagem de estarmos perante um ser de criatividade excepcional, mas cujos demónios derrubaram por diversas vezes, até ao trágico desfecho.

“There’s a devil in me, Trying to show his face, There’s a God in me, Wants to put me in my place, I’ve got to get a hold of myself, I’ve got to be in possession”, canta em Possession (in From the Lions Mouth).

Contada por diversos protagonistas que, ao longo de 20 anos, se cruzaram musical e pessoalmente com Adrian Borland, o filme Walking in the opposite direction releva, ainda mais, a personalidade e a força criativa que ele era, ao mesmo tempo, que põe a nu algumas das suas fraquezas, em que a doença (perturbação esquizo-afectiva) assume papel fulcral.

O testemunho do pai é delicioso pela franqueza e pelo orgulho no filho, que apoiou nas lides musicais desde a primeira hora.

Um espírito verdadeiramente atormentado na cabeça de um génio criativo e produtivo que, pelos vistos, não é para humanos!

Seguiu-se o concerto dos In2TheSound e a coisa pegou mesmo. Motivado pelo que vira no documentário, o público fã e sedento fez a festa desde o primeiro acorde de «Silent air», que abriu a cerimónia.

   

Na torrente de hinos que se seguiu, «Fatal flaw» foi o interruptor e «I can’t escape myself» o momento em que a plateia afirmou que estava ali para tomar participar activamente na celebração.

«Barria Alta» e «Hand of love» serviram para o pessoal respirar, porque a seguir foi… a loucura.

«Total recall» revelou os numerosos vocalistas presentes na plateia e «Winning» foi a chancela de que a noite estava mais do que ganha e que todos sairiam dali… a ganhar!

«The fire» e o fabuloso «New Dark Age» (“And we’ve broken our fingers, Broken our faith, Broken our hearts so many times, They can’t be broken anymore, Scratched away at the walls for years, All we’ve got to show is the dust on the floor, And here it comes, a New Dark Age”), tema épico e de arritmia persistente, que, em crescendo final, parece ganhar contornos proféticos.

«Party of the mind» e «Monument», ambos do álbum «All Fall Down», 1982), fecharam o concerto, que, no entanto, ainda estava longe de acabar. Afinal, o Porto celebrava, finalmente, Adrian Borland e The Sound.

O regresso ao palco de Mike Dudley, Carlo van Putten (voz), JoJo Brandt (guitarra), Carsten Lienke (baixo) e Michael von Hehl (teclados) era inevitável. Banda e público eram já apenas um. Cantava-se em uníssono e bem alto, numa espécie de catarse colectiva. Celebrava-se o génio de um músico, perpetuado no trabalho de uma banda que todos os que ali estavam, de uma forma ou outra, amam.

Arrisco dizer que 95% dos presentes nunca viram The Sound ao vivo. O próprio vocalista dos In2TheSound nunca viu. Felizes os que estiveram no Rock Rendez Vous em 1984.

Para os demais fica esta lembrança:

E se o filme documental entusiasmou, o concerto, excelente, foi a apoteose.

O regresso a palco foi uma espécie de entrada por detrás, uma chamada de atenção, um aviso de que a coisa ainda não tinha acabado e algo de muito bom ainda estava para acontecer. E aconteceu!

«Skeletons» deu o mote, «Possession» atormentou ainda mais as almas inquietas da plateia, «Sense of purpose» tentou aquietá-las um pouco sem sucesso e a estocada final foi dada com «Heartland».

Terminava o concerto e, de alguma forma, esfumava-se, finalmente, o demónio. Destino que tiveram todos os que tanto atormentaram Adrian Borland, mas que, ao mesmo tempo, fizeram dele um criador de excepção de algumas das melhores pérolas do rock dos nossos tempos. Um luxo!

Seguramente, para todos e cada um dos presentes no Hard Club ficou a faltar “aquela música”! Para este escriba faltaram… duas: «Missiles» e «Winter» (bem, pelo menos, foi possível ouvir um cheirinho de ambas no documentário Walking in the opposite direction).

“I’d like to sleep one hundred days, My reason has gone, flesh cold and numb, At least let me sleep through the Winter”…

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