Rita Redshoes: uma ode à mulher com desejos maiores que o medo
Em pleno lançamento do seu novo álbum Her, o blog Mundo de Músicas teve a oportunidade de falar com Rita Redshoes e de conhecer pelas próprias palavras da artista como foi a experiência de criar um álbum assumidamente feminino e que, sem medo de quebrar convenções, presta uma homenagem à mulher de hoje.
Ao longo desta conversa procuramos perceber as motivações da artista e conhecer melhor os bastidores da produção do 4.º álbum, marcado pela importante participação do produtor Victor Van Vugt. E fomos mais além ainda: quisemos perceber que artistas musicais serviram de inspiração a Rita Redshoes, como foi conduzido o processo criativo e que influência teve a cidade de Berlin – onde gravou Her – na composição das suas músicas.
Não podíamos também deixar por fazer a grande pergunta que todos fazem ao ouvir este álbum: porquê cantar em português? O novo trabalho de Rita Redshoes não conta apenas com uma música em língua portuguesa mas sim com três e, como nos revelou a artista, uma delas poderá até tornar-se single muito em breve. Ou assim deseja Rita Redshoes.
Ao longo desta conversa, a artista falou-nos ainda das perspetivas para o futuro e do impacto que a Internet trouxe para a indústria musical. Leia a conversa na íntegra nos próximos parágrafos.
À conversa com Rita Redshoes
Eduardo Aranha (EA): O seu novo disco Her afirma-se como um álbum feminista. Após ter ouvido o álbum, acredito que não há música que melhor expresse essa afirmação do que “Mulher”. Senti que neste tema procura fazer uma ode à mulher para quebrar com convenções e obedecer ao desejo que “é maior que o medo”. É este o propósito da música? O que significa a música para si enquanto mulher?
Rita Redshoes (RR): Sim, é uma ode ou homenagem à Mulher. É uma canção que não pede licença. Há algum tempo que sentia a necessidade de fazer uma canção em que conseguisse expor a força no e do feminino. Apareceu-me assim, numa noite, praticamente acabada, na minha cabeça.
EA: Na Webseries publicada no Youtube, diz-nos que procurou transmitir neste álbum uma “leveza” nas suas canções que não sentia nos trabalhos anteriores. De que forma, no processo criativo, sentiu esta sensação de leveza?
RR: Alterei algumas coisas na minha vida nos últimos tempos e, na verdade, essa leveza também advém daí, dessas alterações. E tinha a vontade de fazer canções que fluíssem, em que a melodia tivesse mais espaço. Não quis complicar ou arranjar artifícios que escondessem a mensagem lírica. O processo criativo acabou por ser leve bem como o processo de gravação, o que me deixou muito feliz.
EA: A cidade de Berlim e os estúdios Riverside tiveram influência direta no resultado final?
RR: Sim, embora não consiga precisar onde é que essa influência está na música. Mas o facto de ter estado fora, praticamente um mês e meio, a gravar um disco numa cidade diferente, longe de casa e sozinha certamente que me fez sentir de forma diferente e isso inevitavelmente reflectiu-se pelo menos na minha maneira de cantar. Uma das canções, a “Wake Up, Goodbye” foi a única em que deliberadamente alterei a letra por causa da história da cidade.
O produtor Victor Van Vugt trabalhou já com artistas como PJ Harvey, Nick Cave e Berth Orton. Como surgiu a oportunidade de trabalhar com Victor Van Vugt? Quem procurou quem?
RR: O nome do Victor surgiu muitas vezes nas listas que fazia para produtores de discos meus mas nunca tinha dado o passo de o tentar contactar. Desta vez surgiu novamente a mim e ao Vasco Sacramento, meu manager, por fazer todo o sentido com a sonoridade que pretendia para este disco. O Vasco mandou-lhe um email e passados dois dias tínhamos a resposta entusiasta do Victor a dizer que queria muito produzir o disco.
EA: E como conseguiu reunir músicos de renome como Knox Chandler, Earl Harvin e Greg Cohen?
RR: Foi uma escolha do Victor. Claro que os conhecia por terem colaborado com muitos dos artistas que mais admiro mas nunca imaginei tê-los a gravar um disco meu. Por coincidência cósmica estavam todos em Berlim e disponíveis para gravar!
EA: Também na Webseries revelou que criou uma playlist no Spotify com algumas músicas que estavam a inspirar a ideia que tinha para este álbum. A curiosidade leva-me a perguntar: que artistas poderíamos encontrar nessa playlist?
RR: A playlist que inicialmente enviei ao Victor tinha nomes como Nina Simone, François Hardi, Scott Walker, David Bowie…
EA: Porquê escolher “Life is Huge” para primeiro single do álbum?
RR: No fundo acho que é uma canção que espelha bem a sonoridade clássica do disco, além de que a letra e a mensagem por trás reúnem muitas das ideias que estão nas restantes canções do disco. É também uma das minhas canções preferidas nos concertos.
EA: Não estamos habituados a ouvi-la cantar em português, mas neste álbum surpreendeu-nos com três músicas na sua língua nativa. Porquê agora, no seu 4.º álbum? Sentia a necessidade de se expressar em português?
RR: Já tinha essa vontade há muito tempo, desde 2012 quando fiz um espectáculo intitulado de “The Other Women” no qual cantei pela primeira em português uma canção da Xana da banda Rádio Macau. Gostei muito da forma como me senti ao fazê-lo e ao longo destes anos fui experimentando algumas abordagens de escrita e canto na nossa língua. Curiosamente a primeira canção que escrevi para este disco foi em português, “Vestido” que acabou sendo uma colaboração com o Pedro da Silva Martins dos Deolinda. Gosto de respeitar o meu tempo e só agora é que estas canções me surgiram.
EA: Podemos esperar uma das músicas portuguesas para futuro single?
RR: Eu gostaria que “Mulher” viesse a ser um dos singles deste disco. Vamos ver.
EA: Piano, omnichord, teclados e guitarra acústica: tocou todos estes instrumentos em “Her”. Vamos ouvi-la tocar outros instrumentos musicais no futuro?
RR: Eu sou péssima instrumentista mas sou muito curiosa. Os instrumentos para mim são pontos de partida inspiradores para escrever canções. Tento fazer música com qualquer instrumento a que tenha acesso. Portanto, tudo é possível!
EA: A grande maioria dos leitores do blog Mundo de Músicas é oriunda do Brasil. Quer deixar uma mensagem especial para os fãs brasileiros? Tem concertos planeados do outro lado do Atlântico?
RR: Primeiro agradecer a oportunidade de falar sobre a minha música! Depois dizer que a minha vontade de poder tocar no Brasil é gigante. Foi algo que ainda não aconteceu mas que eu espero que aconteça com este disco.
EA: Já agora, qual é a sua opinião sobre o impacto da Internet no negócio da Música?
RR: Penso que tem pontos positivos e outros negativos como em tudo na vida. O mundo tem mudado muito e muito rapidamente nos últimos 25 anos. Ainda não se encontrou forma de contornar alguns desequilíbrios que passaram a existir para os artistas. Por um lado toda a gente tem acesso a quase toda a música que é feita e publicada de uma forma simples e rápida e isso é bom, por outro lado há plataformas que ganham dinheiro com a música que os artistas gravam, alguns a muito custo e não são devidamente recompensados por isso. Também se torna difícil furar e chegar às pessoas no meio de tanta informação…
EA: E, por fim, quais são os seus planos para o futuro?
RR: Neste momento estou concentrada em levar estas canções ao maior número de pessoas possível. E as energias também estão apontadas para o caminho internacional!