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Vamos descobrir, falar e ouvir Tim Maia, o Rei da Soul no Brasil?

Vamos descobrir, falar e ouvir Tim Maia, o Rei da Soul no Brasil?

by Gabriel Crespo

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Sebastião Rodrigues Maia nasceu no bairro da Tijuca em 1941, subúrbio do Rio de Janeiro. Crescido e criado como um garoto de uma geração que sabia se virar na rua e fazia dela a sua grande escola, Tião cedo se interessou pela música.

Foram os sons de Bill Halley and His Comets que encantaram os adolescentes dos anos cinquenta. Na companhia de Erasmo (que mais tarde também se tornaria grande nome do rock nacional), Jorge/Babulina (outro grande cantor e compositor a quem dedicou uma música) e a turma da Tijuca, Tim Maia soltou seus primeiros acordes e mostrou que a tinha um talento musical que não é para qualquer um.

Ensinou Erasmo a tocar violão (os três acordes básicos) e corrigiu a batida da guitarra de Roberto Carlos (que viria a ser o maior nome da música romântica do Brasil).

O jovem Sebastião, entretanto, tomou atitudes erradas, teve falta de sorte, era negro (o que para a época era um grande obstáculo) e tinha um comportamento explosivo quase lhe deixou afastado do também muito controverso mundo artístico. Sua genialidade musical, porém, era tão grande que ela não se conteve e transcendeu ao próprio homem a que ela bem dotava fazendo com que ele virasse o nosso querido Tim Maia.

Falar sobre Tim Maia é bem mais do que falar sobre a história de um músico que viveu de forma explosiva e radical (embora isso seja uma verdade), falar dele é falar de um tipo de música que, lamentavelmente, já não se produz mais no Brasil, e que está carente em todo o mundo.

O balanço de suas melodias, o amor e as declarações simples e bonitas de suas letras, verdadeiras poesias, sua imaginação criativa de palco que buscava seguir a perfeição de suas invenções, as suas influências e a sua influência na música brasileira, é algo que não consegue ser transmitido de forma textual.

Pelo menos eu não tenho esta capacidade. No entanto, como eu tenho tanta vontade de lembrar deste que foi o nosso rei do soul, o maior nome do balanço do Brasil, vou aqui deixar uma seleção de alguns de seus maiores sucessos para que a sua alma possa ser sentida pelo leitor.

Seguem os sucessos!

 

 

PRIMAVERA

“Quando o inverno chegar, eu quero estar junto a ti… porque é primavera… Te Amo! É primavera!” “Primavera (Vai Chuva)” foi um dos primeiros sucessos de Tim Maia, que teve seu primeiro álbum lançado em 1970 pela Polydor. De autoria de Cassiano, outro grande nome da soul music brasileira, “Primavera” foi e continua sendo um maior sucesso da discografia de Tim. A recepção do trabalho de Tim Maia pelo público brasileiro foi imediata. O artista também conseguiria destaque internacional. Hoje, seus discos são muito bem quistos no exterior e seu som é reconhecido em sua grandiosidade em qualquer lugar onde for tocado. Foi o álbum de “Cristina”, que contem duas faixas no mesmo disco nº1 e nº2 (composta com Carlos Imperial), “Eu amo você”, “Padre Cícero” (composta com Cassiano) e o seu maior clássico “Azul da cor do mar”.

 

VOCÊ

Um dos balanços mais inspirados do compositor carioca. A música começa com uma introdução lenta de violão e cantada devagarzinho para depois estourar nos metais, elétricos e na garganta de ouro de Tim. Foi uma das marcas registradas de seu segundo long play, de 1971. Que continha só músicas inéditas, como “Não quero dinheiro”, “A Festa do Santo Reis” (de Márcio Leonardo), “Não vou ficar” (gravada originalmente por Roberto Carlos em 1969) e “Meu País” todas virariam sucesso! Apesar de ter sido composta pensando na voz de Roberto Carlos, a música foi gravada por Eduardo Araújo em 68, mas não alcançou êxito.

 

ELA PARTIU

Uma das suas composições da fase da “dor de amor” mais bonitas, sem dúvida, é “Ela Partiu” de um compacto de 1976. Um homem que sofria de amor como qualquer outro, só que com uma expressão sonora diferente! Sua capacidade de extrair sucessos de sofrimentos é uma marca registrada não apenas na sua obra, mas também na de vultos da música mundial. “Ela partiu” foi usada como base para o rap “Um homem na estrada” dos Racionais MC’s. Outra música cheia de drama que o síndico interpreta é “Me dê motivo” de Paulo Massadas e Michael Sullivan. A canção conta com um arranjo incrível de Lincoln Olivetti e uma letra emocionada! “Pede a Ela” de 1985, é outra balada romântica bem sofrida e de uma beleza digna de nota!

 

 

GOSTAVA TANTO DE VOCÊ

Composta por Édson Trindade, um dos rapazes que circulava pela Tijuca dos anos 50, “Gostava tanto de você” foi o sucesso do álbum de 1973. Tim Maia, além de ser ótimo compositor, tinha grandes parceiros e compositores que fizeram alguns de seus maiores hits. Apesar de gravar música de muita gente, a ideia acabava sendo sempre dele, pois sempre foi muito exigente com os arranjos e era famoso por armar confusão quando os arranjos não saíam como desejados e elaborados pela sua mente. O LP já começava em grande estilo com “Réu Confesso”, de sua autoria.

 

 

DESCOBRIDOR DOS SETE MARES

“Uma luz azul me guia/ Com a firmeza e os lampejos do farol/ E os recifes la de cima/ Me avisam dos perigos de chegar/ Angra dos Reis e Ipanema/ Iracema e Itamaraca/ Porto Seguro, São Vicente/ Braços abertos sempre a esperar (…)”. Assim eram as composições do Síndico! Cheias de energia e de uma brasilidade enorme! Apesar de ter recolhido suas maiores influências na música internacional, principalmente no som norte-americano (morou nos Estados Unidos aonde chegou a gravar, aprendeu o nascente soul e chegou a ser preso!), ele sempre foi um cantor brasileiríssimo que não escondia suas referências tropicais, como é possível ver nesta refrescante faixa de 1983 e em outros trabalhos. Em falar em música tropical, tem um álbum bonito no qual ele canta só Bossa Nova com o grupo Os Cariocas.

 

 

   

THESE ARE THE SONGS

Apesar de já ter sido lançada em compacto pelo próprio Tim, “These are the songs” (que mescla poesia em inglês e em português) fez sucesso no disco de Elis Regina (quem apresentou a balada para Elis foi Nelson Motta, produtor daquele disco), grande nome da MPB do momento, que contou com a participação do seu compositor. Ela foi um dos primeiros sucessos seus. Elis que era uma artista que anos antes de gravar este hit era contrária à importação da música americana e inglesa (e não podia ouvir falar em instrumentos elétricos), se rendeu ao som do soul de Tim Maia. Tim não havia gostado do arranjo e do som da banda na sua primeira gravação em compacto. Mas como era um artista de início de carreira, não tinha como exigir uma gravação melhor. Ele sabia que ninguém sabia tocar soul por aqui. E decidiu dar aula com seu talento! E que aula! O que muitos não sabem é que esta versão da Elis com o Tim foi a terceira. A segunda foi lançada por Agnaldo Timóteo, que deu a ela uma interpretação belíssima, mas que ficou obscura em seu repertório que era bastante diferente.

 

 

QUE BELEZA

Em 1975, Tim Maia entrou num culto religioso espiritualista que tinha uma filosofia de vida orientada para a evolução do ser e dos mundos e o reconhecimento do “magnetismo espiritual” que liga todo o universo, uma mistura de umbandismo, esoterismo e até kardecismo. A cultura racional virou três álbuns do artista que, assumiu um comportamento transformado da noite para o dia. Não havia mais álcool, fumo, excesso de comida, aborrecimento, palavrões e explosões, consideradas atrativos de magnetismo negativo. As vestes deviam ser brancas e a banda e todo mundo não podia estar “contaminada” pelas energias ruins. Apesar das críticas pelo fato de que as letras das dezenas de faixas terem sido mal feitas e bem semelhantes entre si, algumas observações são registradas pelos críticos que reconhecem que a voz de Tim ficou mais limpa durante estas gravações (pelo desuso de alcoólicos e drogas) e o som também é de uma qualidade excepcional, mas que ficou obscuro em meio a sua obra devido ao tema “evangelizador”, “conversor” do álbum. Hoje o álbum é lido de outra maneira. O destaque vai para o balanço “Que Beleza” que abria a série de músicas da “Imunização Racional”, compreendida pelo cantor que abandonou a religião por desilusão dois anos depois.

 

 

UM DIA DE DOMINGO

“Faz de conta que ainda é cedo/ Tudo vai ficar por conta da emoção/ Faz de conta que ainda é cedo/ E deixar falar a voz do coração”. Tim Maia dizia que “não gostava de colocar azeitona na empada dos outros” em alusão a gravar participações em trabalhos alheios. Apesar disso, existem ótimos duetos do cantor com outros artistas. Um dos melhores duetos foi em “Um dia de domingo” de 1986 com Gal Costa. A voz doce de Gal ficou se casou perfeitamente com a voz poderosa de Tim. A música de Sullivan e Massadas é belíssima! Foi um dos encontros mais felizes da MPB.

 

 

SOZINHO

Intérprete de primeira qualidade, Tim regravou música de vários nomes da MPB, dando um toque original a cada regravação. Cantou “Aquarela do Brasil” de Ary Barroso, “Garota de Ipanema” de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, “Preciso Aprender a Ser Só” dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle. Uma das versões que eu mais gosto é da música “Sozinho” de Peninha. Sucesso na voz de Caetano Veloso, ela apareceu anteriormente na voz do Síndico cantada de uma forma totalmente diferente da que estamos acostumados a ouvir com Caetano. Ambas tem o seu valor. Apaixone-se também por “Sozinho” com Tim Maia!

 

 

W/BRASIL (CHAMA O SÍNDICO)

O apelido de “Síndico”, que virou marca de Tim Maia, veio de um grande amigo seu – Jorge Ben Jor. No início dos anos 90, seu amigo da Tijuca, compôs “W/Brasil (Chama o Síndico)”, uma música feita para ser hit, para tocar e fazer dançar, um dos atributos que mais aproximava a forma de criar de ambos. Tim Maia morou durante um tempo no Copacabana Palace, e tinha um jeito todo mandão, preocupado com tudo, cheio de energia para cobrar pelas coisas que não estavam indo muito bem (ou pelo ou menos como ele queria). Há uma interpretação muito divertida da música que diz respeito a ele ser associado a um síndico, que geralmente é alguém muito chato, exigente… Isso Tim Maia era! Mas no melhor sentido da palavra chato, é claro!

 

 

Como é bom falar de Tim Maia e ouvir as suas gravações! Há uma energia muito boa em sua discografia! Vale lembrar que há muita coisa “obscura”, que ainda não foi descoberta pelo ouvinte geral! Muita música de primeiríssima qualidade ficou ofuscada pelos sucessos que aqui seguem listados! Ao curioso e amante da boa música, cabe a tarefa de buscá-las!

Há um filme biográfico sobre o rei da soul chamado TIM MAIA, do diretor Mauro Lima, lançado em 2014. Este filme é de ótima produção e a interpretação de Babu Santana (que interpreta o Tim adulto) está dos deuses! Uma das últimas cenas, que retrata fielmente a última apresentação do artista (quando passou mal no palco do Teatro Municipal de Niterói em 1998) beira a perfeição da representação do real nas telonas. Há partes mais divertidas, outras mais tensas, algumas que inspiram potência e brio e há ainda aquelas que inspiram compaixão. Um filme com uma trilha sonora (não é para menos, não é?) impecável, digna do artista.

O filme, aliás, foi inspirado no livro de Nelson MottaO Som e a Fúria de Tim Maia, de 2007 (Ed. Objetiva). O livro é um escrito feito na forma de um papo aberto de um amigo e fã do saudoso cantor e compositor. Ele aborda os altos e baixos da carreira do artista e a sua vida na intimidade que apesar da sua explosão de fúria (positiva de um lado, pela sua produção musical, negativa de outro, pelas suas decisões precipitadas e duvidosas), era um homem amigo, amigável, brincalhão e de bom coração.

Houve na TV Globo há uns anos atrás, os especiais “Por toda a minha vida” (2007), que trazia retrato documental e biográfico sobre alguns artistas, um deles foi Tim Maia. Amigos, músicos e parentes do músico dão depoimentos. Na internet, há muitas entrevistas, gravações ao vivo e várias outros conteúdos legais sobre Tim.

POR TODA A MINHA VIDA

 

Finalizamos nossa postagem com o seu maior sucesso “Azul da cor do mar”, que traz uma mensagem linda sobre a vida, e dão prova da sensibilidade do nosso querido e saudoso hitmaker. Esta versão ao vivo é uma das mais bonitas!

 

 

Sempre que houver uma boa companhia, alguém que curta música, quando o amor estiver no ar… Vamos falar e ouvir Tim Maia?

 

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