Saul Davies e uma faca ensanguentada nos discos dos James
Fiquei amigo do guitarrista e violinista dos James e fui descobrindo um Saulzinho franzino e irrequieto, que se sentia um ‘alien’ em Portugal.
Contou-me que a sua vida ficou marcada pelo facto dos pais terem sido professores de crianças deficientes, por ter habitado “em estranhos edifícios com loucos e convivido com um irmão adoptivo preto e outro com problemas mentais. Íamos para a escola com roupas coloridas, a cheirar a bosta e com o cabelo, que nunca tinha sido cortado, a cair até ao rabo”. Já tocava mas só pensava em desistir “porque queria ser jogador de futebol e não um violinista com ar de homosexual”.
Disse-me que “era o melhor músico, o capitão da equipa, o que ganhava as corridas de atletismo e o que comia as irmãs deles”. Tinha 16 anos quando o pai “desapareceu com outra mulher”, sobreviveu a tocar violino na rua e a morar com um grupo de prostitutas espanholas.
De repente, tudo mudou. Saul Davies foi convidado para os James, gravou “Sit Down“, trocou a bicicleta pela limusina, atingiu os tops de todo o Mundo. Uma vez disse-me que não foi por ter casado com a bela da Ana de Caminha e ficado a morar em Portugal que os James acabaram, mas porque “andávamos todos paranóicos com uma carta de uma japonesa que tinha uma foto com as capas dos nossos discos e uma faca ensanguentada por cima. Dizia que, se não lhe déssemos atenção, se suicidaria”.