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Reggae! Por onde começar: o Melting Pot dos Dub Inc.

Reggae! Por onde começar: o Melting Pot dos Dub Inc.

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O reggae mudou muito ao longo dos últimos anos. Tornou-se mais dançante (para uns), menos interessante (para outros) e chega hoje a milhões de pessoas desprovido da poesia socio-política que Bob cantou.

Não quer dizer que tenha piorado. Apenas evoluiu, na forma, no conteúdo.

Vamos recomendar um álbum para quem costuma dizer “não curto reggae”.

Acredite, são vários que não fazem ideia do que perdem.

Dub Inc., Paradise

São ‘velha geração’, para muitos reggae-heads passaram de moda, “fazem sempre a mesma coisa” mas a verdade é que estes meninos já estiveram na Praia de Santo Amaro, num concerto grátis, acompanhados por Richie Campbell (que, como sabem, começou nas lides do reggae com a sua banda original, Stepacide).

Ter Dub Inc. à pala numa praia perto de si é… o equivalente a ter Bon Iver ou Kanye West a cantarem ao seu lado, no duche.

Em termos daquilo que representam e já deram ao reggae, os Dub Inc. são enormes.

Muito bons mesmo.

O Melting Pot dos Dub Inc.

São de Saint-Étienne (França) e “cheiram a rua”, como diria Freitas Lobo. Melhor, cheiram a Mundo. Perceberão o porquê desta afirmação – a minha, não a do Freitas Lobo – quando entrarmos mais a fundo no álbum.

Ah, já é para entrar. OK. Bora. Deixo uma frase para cada música, daquilo que eu acho.

Eu. Que devo ter ouvido, no máximo, 4 álbums de Dub Inc. (que o google saiba, já levam para cima de 12). Depois segue um parágrafo que traduz aquilo que eu penso, para reggae hater ler.

Aquele suspeito do costume que tem ouvido preguiçoso.

Que nunca ouviu berbere.

Que não arranha nem experimenta Francês porque cresceu num mundo oh so Brexin.

Larguem os Monty Python.

Os Dub Inc. estão aqui em baixo.

Algum enquadramento rádio-tuga

O reggae em Portugal vive sobretudo de… sol.

Há quem diga que os Kussundulola (ainda duram!) foram fundamentais no hip-hop mas jah quem diga que também foram instrumentais para a introdução e audição do reggae via Rádio Cidade, “491, 107.2 dgi Lisbooooa”.

Os Primitive Reason não ‘faziam’ reggae, aquilo era mais ska que outra coisa.

Os Leceiros Expensive Soul não são reggae. Um tal de Sir Giant queria ser reggae mas nunca foi. Tal como Richie Campbell. Desenganem-se. Nunca foi reggae, apesar de estar lá no moodboard.

Reggae/ska, à boa maneira Portuguesa, com uns bons toques de funk pelo meio, ouvimos via Kussundulola (um arraçado de roots, se quiserem), Quaiss Kitir, One Sun Tribe, Souls Of Fire (cujo ex-vocalista está agora com os Blasted Mechanism, que, já agora, têm malhas reggaeiras), epá porque não os Funkoffandfly (espantosa banda; SÓ dos melhores cocktails sonoros Portugueses que Por Acaso vai ao reggae: também serve soul, funk, hip hop e ska).

O reggae explode via arrabaldes, o que não deixa de ser curioso tendo por epicentro uma cidade como Kingston. Uptown ou downtown, o que interessa ao reggae são 2 coisas:

  1. Sol (as bandas referidas vêm de sítios como Cascais, Carcavelos, Leça da Palmeira, Moita e derivados)
  2. Sombra (as bandas referidas vivem da sazonalidade radiofónica: no Verão tornam-se cool e trendy, a partir de Outubro já ninguém ouve falar delas)

Importa referir que (quase) todos os nababos acima referidos conhecem/conviveram com os maiores nomes do reggae Internacional. Os Souls Of Fire já abriram para The Wailers, Groundation, Natirus. Richie Campbell já cantou ao lado de Boushkour, Kymani Marley, Gentleman e costuma visitar a Jamaica com frequência (já lá rodou um clip).

Isto não acontece com Diogo Piçarra, que por mais RockInRios que passem, nunca fará um feat. com Ariana Grande ou abrirá para Mumford & Sons. Err… tirem daí o pónei.

Outras bandas preferiram bater o país e arredores durante uns anos, sacar umas beibes e arrumar a viola. Foi o caso, p.e., dos Quaiss Kitir, de extraordinária sonoridade e álbum de originais, que tinham tudo para ocupar um espaço que estava a pedir super banda. Preguiçaram e anos mais tarde tivemos Richie Campbell versão ‘o que a rádio quer/o que os putos dançam’. Não era mau… mas epá não era Quaiss Kitir.

Para se ter uma ideia, mostrei isto numa viagem que fiz o ano passado à Jamaica e os locais, entre parpalhos (outro estereótipo facilmente colado ao reggae, que hoje é cool e legalizado e fixe e recomendável, como se ao rock ou metal não faltasse uma cocazinha ou cavalo para partilhar no camarim:), começaram logo a dançar.

Reggae autêntico (plus a little bit of ska, and so what, it runs in the family!)

Não coisas arregaetonadas, com claves adulteradas, refrões pífios e Zero de “relevância socio-cultural”, como diriam os Gato Fedorento.

Bem, Dub Inc, vambora. Jah está na hora.

REVOLUTION

Para quem ouve reggae: Ah-ah! Bem-vindos!

Para quem não manja de reggae: Idem! Idem ibidem!

BETTER RUN

Para quem ouve reggae: passamos à próxima não é?!

Para quem não manja de reggae: “Isto não é Richie Campbell, de certeza?”.

Nope.

“Finding my own spaaaace”

PARADISE

Para quem ouve reggae: Dub Inc. do costume…

Para quem não manja de reggae: que entrada é esta?!

“We are living and born in paradise,
Look around so much misery!”

CHAQUE NOUVELLE VAGUE

Para quem ouve reggae: “Rudeboy story!”

Para quem não manja de reggae: “Chaque quem? Nunca gostei de cordon bleu pá”.

   

PARTOUT DANS CE MONDE

Para quem ouve reggae: o tesouro perdido e estupidamente catchy!

Para quem não manja de reggae: tentem ouvir para além do Francês! A sério!

Partout dans ce monde il y a des voix qui résonnent
Un peuple, une foule à qui on ne pardonne
Un combat et des dépouilles des cœurs qu’on emprisonne
Tous en zone de non droit
Tant d’ennemis autour d’une même promesse
Faites aux citoyens du monde du moins ce qu’il en reste
Aujourd’hui les printemps n’ont de cesse
D’enfermer des hommes droits
No fascism

THEY WANT

Para quem ouve reggae: Skara Mucci em grande

Para quem não manja de reggae: “Mas quando é que dá para abanar a bunda?!”

They want more faya mi give dem
They want more music we give dem
They want more ragga we give dem

FOUDAGH

Para quem ouve reggae: clássico instantâneo

Para quem não manja de reggae: ouçam apenas a parte instrumental. É dos melhores feats sonoros da sonoplastia dos Dub Inc. Sim, e o refrão é mais ou menos assim. E a percussão… Heilil Selassi, ó a percussão!

“Fkéyéde adtsour ouliwe y foud
Al’ma doulameuch iness maché deul maheul I ou skar
Sou latsail adireusse
Eukeur eukeur a miss eu tmorse koulil meundede é oultsmach
Nokné n’zra ouliche I tchroule inasse I ouliche inasse
Avrida youral,cézich yédral wéné jarveune iynach icheufcha lazar
It’s faka sbar irnoud demar atass idèch iyneune aya deunmankar”

IL FAUT QU’ON OSE

Para quem ouve reggae: Bailarico reggae!

Para quem não manja de reggae: Agora sim, podem dançar!

SOUNDS GOOD

Para quem ouve reggae: Festinhas reggae!

Para quem não manja de reggae: Ah pois é, tirem o pé do chão!

HURRICANE

Para quem ouve reggae: nice

Para quem não manja de reggae: não vai gostar, apesar do que eu possa escrever por aqui. Tem muita coisa 101 do reggae mas quem já ouviu a Better Run acha que isto é outra banda…

ENFANTS DES GHETTOS feat. Meta Dia & Alif Naaba

Para quem ouve reggae: tesouro perdido. Mesmo!

Para quem não manja de reggae: os Dub adoram feats. Habituem-se!

ONLY LOVE feat. JAH MASON

Para quem ouve reggae: Bah. Gentleman, 2003?! Single de rádio?! Já chega, não?!

Para quem não manja de reggae: “epá, que isto não se ouve nada mal!”

DUB CONTROLE

Para quem ouve reggae: Fixolas.

Para quem não manja de reggae: Thumbs down!

E é isto meus amigos.

Começar a ouvir reggae com Dub Inc. é, a meu ver, essencial.

Seja a Galerer

ou a Mache Besif

, atrevam-se pela sonoridade destes boyz.

O Paradise, que acho genericamente muito bem feito, com ritmo, mensagem, malhas que tanto batem na danceteria, no rádio do boguinhas e que suscitam discussões de biblioteca, servirá na perfeição os gostos de quem conhece e de quem sempre cuspiu nas artes do reggae.

Hear me now!

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Comments

  • Pure Style
    13 February, 2019

    Olá Manuel!
    Que bacana o som dos caras.. ainda não conhecia.

    Um beijo

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