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NOS Alive!2018: A avalancha QOTSA e o mergulho na alma negra de Reznor

NOS Alive!2018: A avalancha QOTSA e o mergulho na alma negra de Reznor

by Pedro Vasco Oliveira

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Entreguei ao tempo aquilo que o tempo sabe fazer melhor do que qualquer um outro. E esse dom é o de apurar como ninguém o que é digno de memória, pelas melhores ou pelas piores razões, no fundo, aquilo que não tem relevância histórica.

Afinal, sabe-se que a coisa correu bem quando nos dias e nas semanas seguintes se acorda com aquela música, em loop, na cabeça, se visualizam momentos verdadeiramente memoráveis, os chamados instantâneos da vida, ou se sente um arrepio da cabeça aos pés por uma qualquer lembrança, como se de um dejà vu autêntico se tratasse.

Esta foi a estratégia escolhida para escrever esta prosa, também ela um pouco entre a realidade e a ficção, mas definitivamente sobre um passado que teima em manter-se presente e pelas melhores razões.

«O melhor cartaz. Sempre» é o lema há muitos anos do festival Alive! e a edição de 2018, diga-se em abono da verdade, esteve uma vez mais à altura do mote que ano após ano traz grandes nomes até ao Passeio Marítimo de Algés.

Comecemos… pelo princípio e pelo incrível concerto dos irrepreensíveis Nine Inch Nails, de Trent Reznor, um aviso à navegação num dia que acabou por deixar algo (rockeiro) a desejar, mas que acabou por ser salvo pelos portugueses Paus e Orelha Negra (que concertaço!).

A intensidade sonora dos Nine Inch Nails leva quem assiste para além de algumas linhas vermelhas, mas faz parte. É um mergulho nas profundezas da alma, guiado pela escuridão e leveza que a negritude também contém. Extraordinário. Trent Reznor sabe como ninguém passar aquele feeling de que à beira do abismo… saltar (até) pode ser a solução!

Os Wolf Alice acabaram prejudicados por começar a tocar pouco antes dos Nine Inch Nails, mas dos 25 minutos de concerto que este vosso escriba assistiu deu para confirmar que aquele também era um dos concertos obrigatórios a ver no dia inaugural do Alive! 2018.

Pelo meio, a actuação de Paus, excluindo a parte Holly Hood(esca), permanece, mas foram os Orelha Negra que brilharam mais no final da noite. No fecho das hostilidades, o colectivo lisboeta elevou um pouco mais a fasquia e deu um concerto de se lhes tirar o chapéu.

 

Orelha Negra

 

Para esquecer mesmo, porque a memória (para além de confirmar uma desconfiança antiga) é, de facto, negativa foi o concerto dos Arctic Monkeys: Os ingleses não convencem este escriba e, pelos vistos, também não convenceram os próprios fãs!

Por entre os pingos da chuva que, por acaso, até nem caiu, passaram o histórico Brian Ferry, uma actuação para consolar fãs de gerações mais melosas, e ainda os Snow Patrol e os Friendly Fires (mas estes a seguir a Nine Inch Nails nunca seria fácil!).

Nota ainda para três fenómenos, totalmente surpreendentes para este que escreve: Jain, Sampha e Khalid.

A francesa, o inglês e o norte-americano protagonizaram as actuações mais eufóricas e participadas por um público que cantou com os artistas, dançou e saltou até à exaustão (!!!). Foi a loucura, por três diferentes ocasiões, no Palco Sagres. Só visto!

Queens Of The Stone Age

 

A avalancha QOTSA no NOS Alive!2018

Bem, após uma noite bem dormida, a segunda jornada foi um chorrilho de rock. Guitarras ao alto e foi um tal dar-lhe brita.

Se alguém ainda tinha, ou tem, alguma espécie de dúvida que os Queens Of The Stone Age (QOTSA) são uma máquina de (puro) rock bem pode dedicar-se a outra coisa que não a isto da música e, em especial, do rock. Que vendaval! Que brutalidade! Que hora e meia de puro devaneio! Uma avalancha de electricidade sonora!

Josh Homme e os seus comparsas são top, meus caros. Energia a rodos a sair do palco desde o primeiro acorde, guitarras completamente desvairadas, ritmo intenso e alucinante a chamar por uma massa humana que cedo entrou em sintonia. Aliás, o concerto acabou em apoteose total com «A song for the dead». Que máquina! Que avalancha!

O dia começou logo com um brilhante concerto dos Black Rebel Motorcycle Club, um verdadeiro hino ao rock tocado por guitarras sujas e irreverentes, numa altura em que o Sol ainda estava alto (benditas nuvens viajantes que sempre deram alguma trégua aos festivaleiros).

Pelo meio, os The National foram, simplesmente, brilhantes e os Future Islands aquilo que já habituaram quem os segue. Concertos plenos de interacção com os festivaleiros, que em ambos os casos nunca se negaram.

 

The National

 

O concerto dos The National foi excelente, com muitos dos êxitos a figurarem no alinhamento, e o público deu nota disso mesmo.

Por seu turno, no Palco Sagres, já depois da avalancha QOTSA, os Future Islands voltaram a ser iguais a si próprios. Samuel T. Herring protagonizou mais um concerto pleno de vibração e entrega, como se de uma competição se tratasse e fosse necessário demonstrar quem está mais empenhado em vencê-la.

Só que não há competição, não há vitórias nem derrotas, há sentimentos e a sua revelação intensa através da música. O magnetismo que o vocalista exerce sobre a plateia é impressionante e revelador do quão animal de palco é o vocalista dos Future Islands.

   

Portugal. The Man, por falta de ubiquidade, e Two Door Cinema Club, porque não era, definitivamente, o que encaixava após alguns excelentes concertos rock, terão que ficar para segundas núpcias, tal como Chvrches, cuja qualidade do som estava tão má que ir embora foi o melhor remédio. Havia que salvaguardar as fabulosas memórias sonoras que a noite havia proporcionado.

Ainda antes de falar do terceiro e último dia, uma palavra para o Palco Comédia. Desde há uns anos, o Alive! disseminou palcos pelo recinto no Passeio Marítimo de Algés. Uns fazendo mais sentido do que outros, alguns ainda não fazendo sentido nenhum. Mas, pronto, são escolhas e há que respeitar.

Quem parece não ter respeito nenhum são os comediantes, pois é, de facto, impressionante como, mesmo estando os palcos principais em actividade, a tenda do Palco Comédia está invariavelmente a transbordar de público. Um sucesso a toda a prova.

É um caso de estudo no sentido em que até dá a sensação que aquele pessoal que invade a tenda e a embrulha por fora pagou bilhete (simplesmente) para assistir a comédia!

Depois, com cada vez mais projectos musicais que fazem a ponte com a comédia, o palco tem ganho outra dimensão dentro daquele que é, de facto, o maior festival de Verão.

 

Jack White

 

Grandes foram igualmente alguns dos nomes que preencheram o cartaz do último dia.

Se a grande atracção eram os Pearl Jam, uma nota muito especial para os Franz Ferdinand e para Jack White (que acabou o festival em palco com a banda de Eddie Vedder), mas também para Alice in Chains e para The Last International.

Estes dois últimos, ainda o dia espalhava a sua magia através dos fortes e quentes raios do Sol, prepararam e aqueceram a vasta plateia para o que viria a seguir. E isso foi algo de quase transcendente.

Jack White descarregou energia no público de forma absolutamente mágica. Torrente sonora com as guitarras a lavrarem de forma enfurecida pela vasta massa humana que assistia.

 

Franz Ferdinand

 

Já os escoceses Franz Ferdinand protagonizaram um momento de deleite e entusiasmo entre o público. Já com a esmagadora maioria do público presente no recinto a encarar o Palco Nos, a banda de Glasgow celebrou a música, sempre a piscar o olho à pista de dança e debitando alguns dos seus hits para delírio da plateia.

Por fim, Eddie Vedder e companhia, que fizeram esgotar os bilhetes do terceiro dia num ápice e logo de seguida os passes gerais, regressaram a um palco que já pisaram anteriormente e o efeito foi… o mesmo.

Os tugas gostam da banda, a banda gosta de tocar para os tugas e quando assim é a coisa acontece naturalmente e, uma vez mais, de forma memorável.

Entre clássicos do seu vasto repertório e algumas versões de temas de Pink Floyd, John Lennon ou Neil Young, os Pearl Jam desfiaram rock em força, com aquele cheirinho fabuloso a grunge, sempre em interacção com a enorme plateia, que entre a euforia e o deleite delirou com o concerto.

No fecho da actuação, Jack White subiu ao palco e interpretou com a banda norte-americana «Rockin’ in the free world», do canadiano Neil Young (ele que também já passou pelo Passeio Marítimo de Algés num concerto de grandes e boas memórias).

Cereja em cima de um bolo bem saboroso que foi o concerto dos Pearl Jam.

Por outros palcos muita música foi tocada, mas estas actuações foram as que o tempo fez perdurar na memória deste vosso devoto escriba.

Para o ano há mais, novamente no Passeio Marítimo de Algés, em Oeiras, nos dias 11, 12 e 13 de Julho e os bilhetes já estão à venda!

 

Pearl Jam

 

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