Todos gostamos de cantar as nossas músicas favoritas, aquelas que não nos saem da cabeça e que contam com um ritmo que nos faz bater com o pé só de pensar na melodia. Colocamos o volume do rádio mais alto quando vamos no carro, usamos o chuveiro para fazer de microfone e, sem vergonhas, assumimos o palco em noites de karaoke. O problema, no entanto, é que na maior parte dos casos não sabemos a letra que estamos a cantar… Apesar de a cantarmos.
Quem nunca mexeu os lábios, fingindo saber a letra da música e esperando que ninguém repare? Esperamos que o som das colunas abafe o nosso canto sussurrado ou então que ninguém saiba a letra e nos possa corrigir.
Não se sinta culpado. A culpa não é sua, mas sim do seu cérebro. Pelo menos foi isto que concluiu uma investigação realizado por uma equipa alemã. Basicamente, enganámo-nos na letra da música devido às nossas expectativas. Se esperamos ouvir uma determinada palavra, é exatamente essa palavra que vamos ouvir no lugar da letra original.
Na verdade, a culpa é dos mondegreens que tem na sua cabeça. Neste post explicamos o que é um mondegreen e porque razão interpretamos (e cantamos) de forma errada algumas das nossas músicas favoritas.
Antes de mais, vamos lá explicar o que é isso do mondegreen. Basicamente, é uma palavra/expressão que interpretamos de forma errada e que acaba por condicionar profundamente a nossa percepção.
A palavra surgiu pela primeira vez num ensaio da autora Sylvia Wright, que admitiu ter interpretado erradamente um verso de uma balada escocesa chamada The Bonnie Earl of Moray. Na música, há um verso que passamos a transcrever: ‘They hae slain the Earl o’ Moray, And laid him on the green’ (‘Mataram o Conde de Moray, E enterraram-no no verde’). Porém, para os ouvidos de Sylvia Wright as palavras pareciam ser outras e continuavam a fazer todo sentido ‘They hae slain the Earl o’ Moray, And Lady Mondegreen’ (‘Mataram o Conde de Moray e a Senhora Mondegreen’). Ouça a música e diga-nos o que ouviu.
A semelhança fonética é mais do que óbvia mas há explicações que vão mais a fundo neste assunto. Afinal de contas, parece que existem várias razões científicas a explicar porque razão é tão fácil interpretar de forma errada canções e poemas. Um linguista da Universidade da Pensilvânia explica que ‘quando percebemos o que alguém diz, uma parte é parcialmente uma alucinação’.
Uma parte daquilo que percebemos vem do som que chega aos nossos ouvidos mas uma outra parte daquilo que nos chega ao ouvido provém das expectativas criadas pelo nosso cérebro. Metáforas estranhas ou simplesmente palavras invulgares são muito propícias a tornarem-se mondegreens. Ao não reconhecerem o que estão a ouvir, as pessoas não permanecem de braços cruzados e procuram um substituto que pareça credível e faça sentido.
Uma música com um mondegreen lendário é Purple Haze, de Jimi Hendrix. Experimente ouvir a música até encontrar algo estranho na letra, algures entre os segundos 42 e 46.
Mas a verdade é que Jimi Hendrix só percebeu que tinha um mondegreen na sua música depois de atuar e provocar alguma confusão entre a audiência. Na verdade, o que canta é ‘Excuse me while I kiss the sky’ (Dêem-me licença enquanto beijo o céu).
Para quem estiver curioso em conhecer mondegreens de outros artistas famosos – e até mesmo para partilhar algumas más interpretações de músicas – sugerimos uma visita ao site Kiss This Guy, dedicado exclusivamente à compilação de más interpretações de músicas, desde as mais óbvias às mais engraçadas.