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Jay-Jay Johanson, a beleza da dor e as lembranças que inspiram

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Jay-Jay Johanson, a beleza da dor e as lembranças que inspiram

by José Manuel Simões

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Trazia no olhar algo de dramático, de assustador, como se me quisesse dizer em surdina que assassinou alguém que depois enterrou numa floresta. Nele vislumbrava ainda pedaços de lascivas intoxicações e enigmáticas alusões à loucura. Sabia do seu estado de perpétua metamorfose, que lhe confere um estatuto de mistério e enigma, mas naquele dia do ano 2000 parecia que o Mundo ia desabar sobre si, soterrando-o.

Porque está assim Jay-Jay?

“Estou mal. Parece que a minha vida perdeu todo o sentido e o amor não é mais possível. Estranhamente, é em horas como esta que a minha inspiração cresce e se revela, que faço do papel confidente, espécie de diário construído de desabafos. Só neste estado dilacerado sou capaz de criar com substância e profundidade”.

Gosto dele, confesso, aprisionei-me àquela dor, postura de gentil melancólico e, também eu, me deixei envolver naquela teia de desamores dolorosamente sentidos. Definitivamente há beleza na dor e Jay-Jay Johanson é provavelmente um dos seus expoentes máximos, cutucando-me de mansinho como que para não doer de uma só vez.

Falava-me como canta de adeus magoados, destilava emoções, conflitos internos, depressão profunda. O que me comoveu é que sentia nele uma vontade demente de ficar de bem com a vida, como se projectasse a todo custo a conquista da sorte que parecia fugir-lhe por entre as nebulosas sombras de um destino inevitavelmente marcado para sofrer, sofrer para criar, criar para ter e dar sofrido prazer. Uma bola de neve tão gélida quanto a sua natal, reino de beleza e suicídio.

   

Sentia-o, e à sua exorbitante determinação em ser justo com os outros, como se para padecer bastasse ele. Ao longo da conversa navegámos entre a doçura e o drama, fracturas do coração expostas e tatuagens íntimas que se tornaram ainda mais relevantes com as lágrimas. Naquele momento de pranto percebi que facilmente esqueceremos com quem rimos. Na gaveta da minha memória, guardada até hoje a sete chaves, mantinha intactas as gotas que ele deixou cair por entre confissões e laços conquistados nas afinidades ao primeiro olhar.

Mas porque tanto se lamuria Jay-Jay Johanson? “Doem-me as lembranças das histórias de paixões não correspondidas e das rejeições que dão vida e morte a tudo o que faço”.


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