Não, não editou um álbum, nem tampouco pode ser considerado o mais dotado dos cantores. Ainda assim, há dentro de Barack Obama um certo lado musical que tem vindo a público ao longo dos últimos anos. De Amazing Grace à “colaboração” com os Coldplay, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América é tendência na Internet, faz referências musicais e até já revelou a sua playlist do Spotify.
Propondo-nos a conhecer melhor esta faceta musical, começamos o nosso post pelo momento mais flagrante que comprova que, de facto, Barack Obama até tem jeito para a música. A “atuação” aconteceu em junho de 2015 e serviu para completar um discurso de homenagem no funeral de Clementa Pinckney, antigo senador do estado da Carolina do Sul, assassinado no interior de uma igreja naquilo que foi considerado um crime racial.
Do alto de um púlpito, Obama entoou Amazing Grace, imortalizado por várias vozes negras ou brancas, como a de Elvis Presley, Aretha Franklin e Rod Stewart. Conhecido como um hino protestante, o tema foi escrito por John Newton e ganha ainda mais força pelo simbolismo associado ao antigo comércio de escravos.
A decisão inesperada de encerrar o discurso com uma canção foi, momentos antes, comunicada à esposa, Michelle Obama, e à sua consultora, Valerie Jarett. Apesar de estar meia tomada, a decisão ainda não era certa: “ainda não sei se vou fazê-lo, mas quero avisar-vos às duas que é provável que cante”, disse o presidente dos Estados Unidos. Incrédula, a primeira-dama questionou se tinha a certeza se aquele era o momento apropriado, dizendo que o apoiaria se o fizesse.
Quem não estava assim tão estupefacta era a consultora. Já numa situação anterior, Valerie Jarett tinha desaconselhado Barack Obama a cantar e na altura eram só uns versos de Let’s Stay Together, de Al Green. Num ambiente mais informal, mas também em 2012, o presidente deu uma “perninha” durante o eventos White House: Red, White & Blues, cantando uma parte de Sweet Home Chicago.
““Mal começou a cantar, ele teve a certeza que a Igreja estava claramente com ele. Ele sabia que eles estavam com ele”, afirmou posteriormente a consultora, justificando a decisão. Na mesma intervenção, Jarett confessou que na altura em que comunicou a pré-decisão, Obama já tinha a convicção de que o apoiariam: “acho que se cantar, a Igreja vai cantar comigo”, confessou-lhe.
O resultado final não poderia ter sido melhor do que o esperado. Como seria expectável, inúmeros órgãos de comunicação deram ênfase ao acontecimento e elogiaram a postura de Barack Obama perante a situação.
No ano de 2012, o mesmo em que Obama cantou Let’s Stay Together e Sweet Home Chicago, surgiu no YouTube um canal que atualmente conta com mais de um milhão de seguidores. O jeito para a música do presidente dos Estados Unidos foi uma inspiração mas aqui as cantigas são um bocadinho diferentes.
Desconstruindo vários discursos do presidente, o Baracksdubs faz versões cortando e colando trechos de entrevistas, comunicados e outras intervenções públicas. O resultado tem, no mínimo, alguma piada, principalmente quando cruzamos a voz de Barack Obama com hinos pop mais ou menos recentes – como é o caso de Sexy and I Know It, dos LMFAO, ou Can’t Touch It, de MC Hammer.
Apesar de Barack Obama continuar a ser a estrela de Baracksdubs, ao longo do tempo, o canal já fez vídeos especiais. Entre eles, há por exemplo um Blurred Lines, de Robin Thicke, na voz de Bill Clinton, ou até um Anaconda, de Nicki Minaj, com a voz do desenho animado Sponge Bob Square Pants.
Embora não saibamos se Barack Obama é, de facto, fã de alguma destas canções, podemos dizer que o gosto do presidente norte-americano pende mais para os clássicos e para o jazz. Recentemente, algumas das canções que gosta de ouvir foram divulgadas pelo Spotify, serviço que disponibilizou duas playlists, uma para o dia e outra para a noite. Entre os músicos, presentes na conta The White House, há lugar para géneros muito diferentes, de Al Green a Nina Simone, passando por Coldplay e Lumineers.
Quem também disponibilizou os seus gostos foi Michelle Obama, autora de uma playlist mais contemporânea, apenas constituída por nomes femininos. Entre as artistas, destaca-se Beyonce com Run the World (Girls), Diana Ross, Mary J. Blidge, Billie Holiday ou Alicia Keys.
Embora não seja de forma direta, parece que Barack Obama tem mesmo uma canção. O tema chama-se Kaleidoscope, faz parte do álbum A Head Full of Dreams dos Coldplay e conta com uma breve participação do presidente dos Estados Unidos. “Temos um excerto do presidente a cantar Amazing Grace naquela igreja, pela importância histórica do que ele fez e pelo significado da canção”, afirmou Chris Martin numa entrevista ao jornal The Sun. O disco conta também com outras colaborações de peso, mas estas pertencem mesmo à indústria musical. Referimo-nos a Beyoncé, Noel Gallagher, Tove Lo e Merry Clayton.
Num contexto diferente, mas também muito recentemente, Barack Obama fez uma referência à banda Korn que alguns encararam com boa disposição, mas que outros classificaram como infeliz. Durante a cerimónia de entrega de uma medalha de honra a Florent Groberg, Obama disse que “não era o cantor dos Korn”, referindo-se a uma situação em particular com o ex-militar.
Depois de ter sido ferido gravemente uma perna no Afeganistão, Florent Groberg precisou de três anos e 33 cirurgias para salvar o membro inferior. Durante o período de recuperação, Jonathan Davis, vocalista dos Korn visitou-o no hospital. Dada a influência de medicamentos, o ex-militar achou que estava a alucinar.
Durante a cerimónia, Obama fez questão de contar a história, dizendo o seguinte. “Ele [Florent Groberg] acordou numa cama um bocado zonzo. Não tinha a certeza, mas achava que estava na Alemanha e alguém estava ao lado dele. Pensou que era o vocalista da banda de Heavy Metal, Korn. Flo pensou ‘O que é que se passa? Estou a alucinar?’ Mas ele não estava. Era tudo real. E hoje também é, Flo, quero garantir-se que não estás a alucinar. Estás mesmo na Casa Branca. Aquelas câmaras estão ligadas. Eu não sou o vocalista dos Korn. Estamos aqui para te dar a maior distinção militar da nação”.