POP DELL’ARTE @BINNAR 2017: Avanti pessoal, life is not a crime!
“Life is not a crime”. João Peste repete-o acintosamente no épico «Avanti Marinaio». E é por esta e por (muitas) outras que este amor aos Pop Dell’Arte não é, definitivamente, um gajo estranho em mim.
E, por isso, este texto não é uma reportagem, muito menos uma notícia ou sequer uma crónica, mas um artigo de opinião sobre aquela que, este vosso humilde e devoto escriba, considera a melhor banda pop-rock nacional de sempre (ponto).
A sonoridade, a estética, a performance sempre fizeram dos Pop Dell’Arte (João Peste: culpado!) um elemento essencial na inovação do panorama musical português. Muito em especial quando falamos no desabrochar da Música Moderna Portuguesa.
“O amor quando eu o conheci, Olhou para mim sorriu e disse: Eu sou apenas uma mentira, mas podes fazer de mim uma canção!” (in «O amor é um gajo estranho»). Pronto, é isto e Pop Dell’Arte é isto mesmo.
Integrados no Binnar – festival de artes que inclui música, performance, fotografia, teatro, vídeo, escultura, imagem e instalações, em formato exposição, actuação ao vivo, residência artística, projectos e workshops –, os Pop Dell’Arte actuaram no CRU – Espaço Cultural, em Vila Nova de Famalicão, exibindo-se em excelente nível e denotando grande competência.
Longe vão os tempos da extravagância kitsch e da loucura em palco, mas João Peste, bem mais recatado, continua a conseguir irradiar uma forte presença, sendo que a voz continua lá. E isso é fundamental!
São os sinais do tempo, esse elemento que desgasta, mas que também tem o condão de (nos) amadurecer. É um facto que não há exuberância, estravagância e outras palavras terminadas em «ância», como, por exemplo, adolescência, mas quando se envelhece bem… Não esqueçamos que começamos a envelhecer logo assim que nascemos, por isso toda a vida é um envelhecimento, pelo que há que saber envelhecer. E ouvir hoje os Pop Dell’Arte continua a ser um enorme prazer, um enorme arrepio que percorre e insiste em (re)mexer até com a alma.
Os Pop Dell’Arte estão bem e recomendam-se
Já não há confetis, nem explosões de cor, nem tampouco João Peste aos pinotes e a rebolar pelo palco, mas uma negritude assumidamente cáustica, desafiadora e, também, uma inexorável sinal dos tempos. Em contrapartida as eternas e majestáticas poses de Peste continuam a magnetizar tudo e todos à sua volta! Poses que, a par de toda a imagética sonora, transportam quem vê e ouve para um universo paralelo que tenho o gosto de vivenciar desde o ido ano de 1986.
Não podia faltar, e não faltou, «Avanti Marinaio», «Sonhos Pop», «My Ratatat» ou «Rio Line», mas faltou, entre muitos outros, o tema «Querelle», como faltou também «My Funny Ana Lana» ou «Poppa Mundi», para falar apenas de canções-marca na história pop dell’artiana na Música Moderna Portuguesa, porque um terço do alinhamento ficou de fora.
A culpa não foi dos Pop Dell’Arte. A culpa não foi do Binnar. A culpa não foi do CRU. O que se passou foi que apareceu a polícia, que deu 20 minutos para fechar a loja!
Mas “juro que um dia todos os polícias se transformarão em estrelas rock” (in «Juramento Sem Bandeira»).
Ainda assim, Pop Dell’Arte, Binnar e CRU esticaram (e bem!) um pouco a corda e houve direito a um «encore» que incluiu também os eternos «Esborre» e «Juramento sem bandeira».
Pop Dell’Arte estão bem e recomendam-se, especialmente em ambiente intimista, como foi o caso no CRU, com João Peste a respaldar-se bem no trio de músicos que (tão bem) o acompanha – Zé Pedro Moura (baixo), Paulo Monteiro (guitarra) e Ricardo Martins (bateria) –, libertando-se para o que tão bem sabe, que é interpretar.
Noite mágica de um Outono envergonhado, que dá ares de Primavera, e que se esconde “por detrás da janela do ponto mais alto da montanha” (in «Bladin»).
Por isto e por tudo: “Arriba! Avanti Pop Dell’Arte”!