Dr. Hank: 6 agentes secretos para defender o Planeta de uma invasão alienígena
Aproveitamos a ocasião para trocar uma ideia com o vocalista Renan Queiroz, que contou detalhes do vídeo, carreira e futuro do grupo gaúcho.
Funk, groove, soul, rap, pop, rock. Junte todas essas levadas, misture-as a uma boa dose de conscientização política e terá como resultado a musicalidade da Dr. Hank, banda brasileira (mais especificamente do Rio Grande do Sul) que acaba de lançar seu mais novo single/clipe, intitulado “Suave Na Nave”. O registro foi lançado oficialmente no dia 20 de abril e deve estar num futuro álbum do grupo gaúcho.
Na nova empreitada, a banda contou com participação de Tonho Crocco, da Ultramen, que além de produzir o single também participou das gravações do clipe. O material foi lançado pelo selo The Southern Crown, que trabalha e apoia diversas bandas incríveis do país. A Dr. Hank conta atualmente com Renan Queiroz (voz/violão), Ryan Muterle (baixo), Laerte Ortega (bateria), Rodrigo Zimmer (guitarra), Diego Moreira (guitarra) e Tiago Land (teclas).
Em “Suave Na Nave”, a banda ressurge bem-humorada contando a história de seis agentes secretos que precisam defender o planeta de uma invasão alienígena. Com produção e atuação do próprio grupo, a trama foi filmada em Canela-RS e contou com apoio de diversos artistas e empreendedores locais. Assista ao clipe abaixo e leia nossa entrevista com Renan Queiroz para entender melhor o enredo. Também falamos sobre a carreira e futuro da banda. Confira!
Entrevista a Renan Queiroz dos Dr. Hank
Renan Pereyra (RP): Como vocês formaram a Dr. Hank?
Renan Queiroz (RQ): Era 2011, em Porto Alegre-RS. Num apartamento no bairro Bom Fim moravam eu, Ryan e Lagarto. Todos já tínhamos histórico de bandas e projetos autorais em cidades do interior. Eu tinha algumas músicas que criava no violão, de maneira descompromissada. Ryan e Lagarto eram bateristas de algumas bandas na serra gaúcha. Mas então, certo dia, o Ryan tomou um cogumelo, assistiu um show em Lajeado e decidiu que iria, a partir daquele dia, tocar baixo. Estava formada a Dr. Hank (num formato inicial de power trio – violão, bateria e baixo). Fomos num estúdio perto de casa pra ensaiar, o ensaio era gravado num CD. Esse CD era da marca Dr. Hank, de mídias e etc. Acabou ficando.
RP: Vocês lançaram recentemente um clipe bem bacana para “Suave Na Nave”. Como surgiu a ideia do vídeo e como foi gravá-lo?
RQ: Inicialmente pensávamos em algo verão, com cores saturadas, camisas coloridas, pura curtição. Ao mesmo tempo buscávamos algo um pouco mais inovador do que algo que já tivesse sido feito ‘trocentas’ vezes. Num certo dia tivemos a visita de um ser místico argentino, George Flores, que desenvolve práticas de meditação através dos sons. Na verdade ele faz a harmonização dos chakras através dos sons. Tivemos uma experiência com ele, numa tarde, no nosso sítio, e simplesmente viajamos longe, perdendo noção de espaço e tempo com meditação e música. Pensamos que seria legal representar isso de maneira lúdica no clipe que estávamos produzindo. Canela é uma região muito rica de artistas das mais variadas frentes.
Buscamos a parceria com os bonequeiros Nelson Hass e Beth Bado, envolvendo seus bonecos na produção. A partir disso fomos opinando e construindo o enredo da história que mostramos no clipe, sempre contando com apoio de vários empreendimentos aqui da serra gaúcha, como Super Carros, por exemplo, que nos emprestou um Porsche Boxster conversível para as gravações, além do Gramado Golf Club, Restaurante Divino, Brechó Desapego e Hotel Casa da Montanha, que emprestaram suas dependências para gravações de algumas cenas. Foi divertido pra caramba, pois foi nosso primeiro clipe de ‘historinha’, com a brisa de atuar mesmo e etc. O enredo foi debatido por todos, com influências de filmes lado B dos anos 80, histórias de alienígenas, filmes de comédia de Seth Rogen e James Franco e sátiras de Hermes e Renato. A música é bem pra cima, direta e reta, alto astral, e merecia um clipe em que soubéssemos rir de nós mesmos.
RP: “Suave na Nave” conta com parceria de Tonho Crocco, do Ultramen, na produção. Como foi trabalhar com ele?
RQ: Tonho Crocco é um ídolo nosso desde que tínhamos 12, 13 anos de idade. Nos últimos anos a gente se aproximou e começou a passar mais tempo juntos, como amigos mesmo. Ele nos visitava frequentemente na Hanker House (nossa casa na serra gaúcha). Numa dessas oportunidades entramos no estúdio que temos nos fundos de casa e passamos a brincar em cima de um groove, disso nasceu a música. Decidimos gravar ela como single e chamamos o próprio Tonho pra produzir esse som que tínhamos feito juntos. Foi foda trabalhar com o cara que, além de ser ídolo, é um baita amigo. Um cara íntegro, de alma boa e tranquila. Dá uma ‘tremida na perna’ de ter que executar sua parte ali na pressão, de ter O CARA te olhando, mas ao mesmo tempo a gente confia muito na percepção musical dele. Foi a primeira vez que trabalhamos com alguém de fora dando pitaco na nossa música e foi importante ser alguém que respeitamos tanto musicalmente e que tem uma história tão forte na música, principalmente do Rio Grande do Sul.
RP: No início, a DR. HANK cantava em inglês e aos poucos foi inserindo músicas em português ao repertório. Como rolou essa transição e por que optaram pela mudança?
RQ: Cara, isso foi muito natural. As primeiras músicas da Dr. Hank surgiram de composições antigas, ainda da época em que eu morava na Holanda e me comunicava mais em inglês. Passado um tempo, de volta ao Brasil, natural que se perca um pouco do inglês na construção da arte, que nada mais é do que vomitar aquilo que tá martelando na nossa cabeça. As marteladas naquela época eram em inglês, mas há também músicas com refrão em holandês, parte em francês e assim por diante, sem regras. Sempre vai do que a música pedir – e de acordo com as referências que estamos vivendo naquele momento. Fato que na adolescência a gente consumiu muito mais música em inglês em comparação com obras nacionais.
Curtíamos muito misturar a sonoridade brasileira com o idioma gringo e ver o que saía disso. Assim como Caetano já fez, entre muitos outros, brincar com os sons das palavras. A partir do momento que passamos a viver de música, viajando com o disco VOA, passamos a conhecer mais bandas nacionais. Vivendo no RS nós ficamos meio afastados das sonoridades do resto do país e precisamos viajar pra descobrir muita coisa que nos encantou, como os ritmos nordestinos, entre outras vertentes que passamos a misturar ao nosso som.
RP: E agora, quais serão os próximos passos da Dr. Hank? Estão planejando um novo disco?
RQ: Sim, temos um monte de músicas meio prontas já e que gostaríamos de pegar umas 10 e botar num disco. O VOA, na nossa visão, foi um apanhado de coisas que tínhamos prontas de 2011 a 2013, sendo que algumas músicas já existiam desde 2009. Então ele ficou meio perdido em questão de identidade como um todo. Temos a vontade agora de entregar um disco mais enxuto, que faça sentido do início ao fim, conte uma história e traduza o momento da banda com mais precisão. Um retrato. O que falta pra rolar é só questão de organização e principalmente grana. Sentar e fazer acontecer.
RP: Vocês também estão com shows marcados em São Paulo. Como está a expectativa para essa turnê?
RQ: A expectativa é a melhor possível. A gente tem uma história legal já no estado de SP, visitando umas duas vezes por ano pra shows desde 2012. Estamos pilhados, pois vai ser o lugar mais massa que já fizemos na capital de SP, com certeza. O Z Carniceria é um lugar que já curtimos vários shows fodas como Jaloo, Medulla, Far From Alaska e agora é a nossa vez. Um lugar bacana pra mostrar o trabalho, uma vitrine interessante que a gente espera aproveitar direitinho. Já pros shows no interior, Sorocaba é uma cidade que nos recebe sempre muito bem. Marília passamos uma vez por lá, ao lado da Francisco El Hombre, e foi surpreendente. Ainda teremos nossa primeira vez em Limeira e Tatuí, o que é sempre bacana: conhecer novas cidades, novos ares, novas almas. Vão ser quase 4000km em poucos dias e esse tempo todo de estrada, juntos, passando perrengue, é sempre algo que fortalece, une a banda e cimenta a identidade do grupo.
RP: Li sobre o lance de vocês viajarem de Kombi para os shows e achei isso um barato. Ainda continua rolando?
RQ: Tivemos uma Kombi, vermelha e branca, linda, ano 1975. Viajamos com ela por cerca de 2 anos. Às vezes fazíamos 4000km em duas semanas, de Kombi. Era um barato. Tinha que ter muita paciência, mas era massa. Aprendemos muito naquela época, em não desistir por qualquer coisinha. A Kombi parava, dava pau, a gente descia, respirava, arrumava e seguia em frente. Ajudou muito pra hoje encarar com calma quando rolar um perrengue ou outro. Sempre curtimos essa autonomia, de usar nossa própria condução, sem motorista de van, transfer ou algo do tipo. Pra podermos fazer nossos próprios horários, curtir melhor as cidades e viver melhor a estrada. Infelizmente a Kombi sofreu um acidente, deu perda total, ninguém se machucou. Havíamos adquirido um patrocínio da Heineken, que apoiaria umas long necks pras festas que produzimos seguidamente aqui na Hanker House, nossa sede, em Canela/RS. Fomos a Porto Alegre buscar – no dia da festa, voltando pra Canela, um cara alcoolizado em alta velocidade bateu na Kombi, as rodas travaram na hora, ela capotou, três voltas. Todas as long necks se esparramaram, estilhaçando-se. A filha de um dos integrantes estava junto, mas felizmente ninguém se machucou. Aliás, foi incrível que ninguém tenha se machucado, mas a Kombi não sobreviveu.
RP: Incrível! Pra finalizar, faça um breve histórico sobre os demais trabalhos da Dr. Hank pra quem quiser conhecer mais sobre a banda.
RQ: Em 2012 lançamos nossos primeiros trabalhos. Tínhamos apenas uma semana e muitas músicas estruturadas, ainda no formato violão, bateria e baixo. Decidimos apostar em LIVE SESSIONS, que na época era algo de certa maneira “inovador”; uma série de vídeos tocando em lugares inusitados, músicas captadas em apenas dois canais. Em 2013, lançamos o ANALOG LIVE SESSIONS, gravado ao vivo, direto do rolo de fita, distribuído apenas em K7, 100% analógico. Foram sete músicas que acabaram entrando pro disco VOA, lançado em novembro do mesmo ano.
O VOA possui 15 músicas e gravamos na serra gaúcha, em casa mesmo, com produção própria. O álbum foi agraciado com o Prêmio de Música da Serra Gaúcha de Melhor Álbum Pop, emplacou alguns singles nas rádios do estado do Rio Grande do Sul, tocou em festivais como Grito Rock, Planeta Atlântida, Noize Festival, Orion Festival, entre outros. Em 2015 lançamos o HANKERHOUSELIVESESSIONS (EP), gravado ao vivo, na sala de casa, com vídeo captando tudo, na íntegra, as três músicas em sequência. O vídeo foi lançado com exclusividade pelo canal da VEVO, no Youtube.
Em 2016 lançamos o single “Ssaporra”. Embalados pelo momento político escroto do país, com um golpe de estado acontecendo e a míope bateção de panelas, decidimos nos posicionar com o single e um clipe. No mesmo ano lançamos single duplo, com as músicas “Rotina” e “Funkin’Up”, gravadas ao vivo no estúdio Acit, em Caxias do Sul, evidenciando ainda mais nossa veia rap/funk.