Depeche Mode: Electrónica de melodias quentes, batida firme e espírito dançante

“Reach out and touch faith” introduz «Personal Jesus», provavelmente, a mais declarada impressão digital dos Depeche Mode.

Electrónica negra de batida segura e a piscar o olho à pista de dança, melodias quentes e texturas acetinadas, em que a voz de Dave Gahan é outra das marcas que não passa despercebida num conjunto em que a monocromia é fustigada pela explosão de quentes e vibrantes cores que pintam a sonoridade da banda. Sempre com o negro em fundo. Aliás, a negritude sempre povoou o universo do trio de Essex e marca-lhes a imagem desde o início.

Contar a história dos Depeche Mode é contar a história de um jovem que, em meados dos anos 1970, tentou empenhadamente formar uma banda. Acabou, por força dessa busca, por reunir os elementos que formariam o primeiro trio – ainda sem o nome pelo qual é hoje venerado em todo o Mundo – e que daria origem aos autores de «Personal Jesus».

Sim, falo de Vince Clarke, que depois de tanto esforço e de ter composto, e bem, o primeiro álbum da banda Speak & Spell (1981), decidiu seguir outro caminho, que alguns devem lembrar-se (Yazoo e Erasure), e abandonar o grupo que tinha fundado.

Ora a busca começou por render Andrew Fletcher, recrutado para o projecto No Romance In China, e de seguida o teclista e guitarrista Martin Gore, através de French Look. E foi sob o nome de Compositon of Sound, já com Fletcher no grupo, que o trio deu os primeiros passos. Alguns meses depois, já em 1980, Dave Gahan junta-se ao grupo, que assim passa a quarteto, e assume o nome Depeche Mode, inspirado numa revista de moda francesa.

Apesar do sucesso do álbum que trazia Just Can’t Get Enough, Vince Clarke sai, entrando Andy Wilder, enquanto Martin Gore assume a composição musical.

A opção electrónica, a banda munia-se apenas de teclados para compor e tocar ao vivo, está perfeitamente assumida e ao segundo álbum não se nota «um antes e um depois», o que dá crédito à nova formação.

Os anos 80 do século XX serviram para os quatro de Essex fazerem caminho rumo a um patamar que poucas bandas conseguem. Para o bem e para o mal, diga-se! A grandeza dos Depeche Mode faz com que sejam amados por muitos, mas igualmente odiados por uns quantos.

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No entanto, há algo que é inegável: os Depeche Mode são um legado incontornável da cultura pop. Desde as décadas finais do século passado e entrando pelo século XXI adentro vêm pintando o universo com a sua negritude sonora, melodias quentes e batidas firmes, sem nunca descurar o carácter dançante.

E se os anos 1980 serviram para a banda lançar as bases do seu sucesso, foi na década seguinte que o atingiram em força. Porém, nem tudo foram rosas e até houve bastantes e grandes espinhos à mistura.

Tudo começou pelo melhor logo em 1990 com «Violator», longa-duração da banda que deu ao mundo Personal Jesus a conquistar público e crítica, guindando os Depeche Mode a um patamar bem superior. Três anos volvidos, com Songs of Faith and Devotion, um disco em que há um uso mais intenso de guitarras eléctricas, o grupo consolida essa posição, conquistando o primeiro lugar nas tabelas do Reino Unido e dos Estados Unidos.

Digressões intensas e longas e esgotadas consecutivamente consagram o som electrónico da banda e toda uma imagética que com o tempo foi ficando mais requintada e impressiva.

Contudo, o sucesso também tem uma face negra e na década de 1990 ela fez-se notar. Dave Gahan não só esteve a patinar com uma overdose de heroína, como antes disso cortou os pulsos numa tentativa de suicídio que se revelou infrutífera. Entretanto, já Andy Wilder havia abandonado a banda, que assim regressava ao formato de trio que lhe esteve na génese.

Enquanto o vocalista ressacava numa clínica de reabilitação, Gore e Fletcher continuaram a trabalhar, o que daria frutos quatro anos passados com a edição de Ultra (1997), que chegou a número 5 nos Estados Unidos.

Tempos conturbados que a banda voltou a ultrapassar, retomando o caminho da fama e glória. E os Depeche Mode continuam a arrastar multidões até aos seus concertos, tendo até ao momento vendido mais de 100 milhões de discos e coleccionado diversos prémios.

O regresso à estrada deu-se logo em 1998 com um festim de êxitos da banda e que integram o álbum The Singles 81-98, a que se seguiu nova pausa.

Dando expressão às sonoridades que povoavam os tempos de viragem de milénio, o longa-duração Exciter apresenta uns Depeche Mode fortemente influenciados pela música minimal das raves que um pouco por toda a Europa marcavam o ritmo mais electrónico da cena musical.

Seguem-se, entre 2005 e 2013, mais três álbuns, com produção a cargo de Ben Hillier (Doves, Blur, U2, Elbow), que consolidam a posição dos Depeche Mode no panorama pop-rock mundial: Playing the Angels, Sounds of Universe e Delta Machine.

As digressões que suportaram os discos foram novamente um enorme êxito, com os concertos invariavelmente esgotados.

Spirit é o título do 14ª álbum dos Depeche Mode, com lançamento previsto para a Primavera de 2017, seguindo-se a The Global Spirit Tour, com arranque europeu agendado para 5 de Maio, em Estocolmo (Suécia), e final para 23 de Julho, em Cluj (Roménia). Seguir-se-ão os concertos pelo continente americano.

Depeche Mode em Portugal

Integrado na The Global Spirit Tour está o concerto dos Depeche Mode em Portugal, agendado para dia 8 de Julho, no NOS Alive’17, no Passeio Marítimo de Algés, em Oeiras.

A digressão The Global Spirit Tour, a 18.ª da banda, traz o trio de volta a Portugal, depois da última passagem, há três anos, precisamente no festival Alive. Dave Gahan, Martin Gore e Andy Fletcher prometem aos fãs um espetáculo inovador e intensamente emotivo, sem deixarem de fora alguns dos grandes hits da banda.

Depeche Mode

Passeio Marítimo de Algés (Lisboa) – 8 Julho 2017

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