A série Shuffle revolve álbuns antigos e bons. Ou não tão bons porque nem tudo o que é antigo é obrigatoriamente giro. Significant Other, dos Limp Bizkit, que fez 20 anos este Verão, pode ter influenciado uma geração mas não era lá grande coisa. Hoje começo com um senhor que volta e meia entra na moda mas nunca por lá ficou. Chama-se Dave. Não é Grohl. Não é Weckl. Não é Navarro.
É o Matthews pá.
ALBUM: Big Whiskey and the GrooGrux
ANO: 2009
Artista: Dave Matthews Band
Género: Alt. Rock?
(mais sobre categorias musicais é só sacar o Winamp e ver as tags de géneros que eles para lá mandam; para mim Dave arranha funk, alt rock ou o puro e simples ‘jam band’)
O Dave é fixe. Não só para as senhoras adoradoras de hits em conserva como Crash ou #41 (“ai, aquela versão acústica”) que viram earworms que dão imenso jeito ao boyfriend-to-be que vai tocar aquela serenata à varanda da moça que pretende cortejar. Por falar nisso… o que é feito das serenatas?…
Bem, vamos ao que interessa.
O álbum é antigo – duplo dígito, letra X, 10º aniversário – e completamente fora da onda de lançamentos da época: em 2009 batia Jay Z, Rihanna, apareciam uns tais de Grizzly Bear, Arctic Monkeys tocavam da Radar à antiga MegaFM, os Franz Ferdinand partiam a loiça, Placebo, Kasabian, enfim. Pela “ocidental praia lusitana” soavam os Deolinda, Mariza (com o fabuloso Terra) e porque não A Letra que Roub, perdão, O Homem que Sou de Tony Carreira.
Big Whiskey, no meu radar, apareceu um pouco por acaso, até porque eu não ouvia Dave desde os tempos idos de Listener Supported (de 1999, do mesmo ano de… Nookie, exactamente, de Fred Durst e amigos). Só que a cena bateu. E bateu bem.
Senão oiçamos:
Podem sempre dizer – quem o viu no Alive, p.e. – que o homem não exala propriamente carisma. Não vira o palco ao contrário como, p.e., um Dave Grohl. Ou que não tem – ou não sabe tocar ao vivo como deve ser – aquele groove macaco de fazer os surdos vibrar como os Rage Against the Machine. Com Dave, you get what you get. Não há grandes exigências. O ensemble é tipo relógio suíço: de Carter Beauford e dos seus fraseados doidos até à secção de sopros, o que interessa na música de Dave não é o riff nem a voz… é the team.
Por isso ele não precisa de brilhar. Porque há luz que sobra pela banda toda.
Já havia iTunes e cenas mas a verdade é que, mesmo não sendo um género comercialmente ‘fofo’ – nunca foi, Matthews é daqueles gajos de culto, ou se gosta de um par de músicas, ou se muda de música para passar à próxima do Piçarra – este Big Whiskey chegou a #1 nos States, em Inglaterra, fez quarto posto na Alemanha e, pasmem-se, terceiro no Japão. Vendeu como bolas na praia.
1 – You & Me: tresanda a favores radiofónicos. Demasiado formulaica e quadrada, mesmo para os cânones baladeiros de Dave, que têm sempre um rasgo qualquer. Nunca senti isso nesta porcaria desta música;
2 – Why I Am: mais fórmula, pouco sumo. Riff comercial, batido, sem sal nem coentros nem nada. Ouve-se melhor que You & Me mas é pífia em comparação com o resto
É tudo fenomenal. Para mim, que conheço pessimamente a obra de Dave, fiquei até hoje agarrado a este disco, ao qual regresso com relativa frequência para sentir… a riqueza musical destas gentes.
Isto, meus amigos, é ouro musical. Aproveitem.
O que Carter toca aqui é qualquer coisa de inacreditável!
Isto sim é Dave Matthews!
E por aí fora. Deixo o link do álbum (YT e Spotify) para deixarem em… Shuffle, obviamente.
Dave não é o típico arena guy, turboaspirado a coca e desejado por todos e todas. Talvez venha das suas raízes (África do Sul) ou das suas influências musicais (diversas, não pesquisei), mas as suas letras contêm mais significado do que imensa tralha que ouvem pelas nossas rádios.
O homem fala de Política, Antropologia, Filosofia, o menu é vasto e a sonoridade obviamente brilhante. Estamos, a meu ver, na presença de um génio poucas vezes reconhecido pela maioria das pessoas.
E ainda bem.
Porque no dia em que este tipo passar na rádio eu… mudo para o Piçarra.
Muito rapidamente!
O QUE DISSE A ROLLING STONE:
“É o álbum mais pesado, musical e emocionalmente; será o melhor álbum de Dave Matthews até agora?!”
O QUE DISSE O TONY CARREIRA:
“Vou roubar. Tudo”
O QUE PEDIRAM AS MENINAS:
Isto
25:46. Depois não digam que eu não sou amigo…
NO PRÓXIMO SHUFFLE:
Sim, vamos mesmo atirar-nos a Significant Other. It’s just one of those days…