Home / Indie /

Born To Die: um hino à decadência do sonho americano

born-to-die-mundo-de-musicas

Born To Die: um hino à decadência do sonho americano

by Eduardo Aranha

Share this article

     

Não gostei de Lana Del Rey quando a vi pela primeira vez no vídeo Born To Die, mesmo naquela altura em que a artista se preparava para dar o salto para a fama. O vídeo do single tinha acabado de sair, um amigo partilhou-o no Facebook e o meu primeiro pensamento foi: quem é esta rapariga de olhos esgrouviados e lábios tão vermelhos?

Mas nos meses que se seguiram Lana Del Rey conquistou a sua coroa entre os cantores de indie pop, perseguida por polémicas que já envolveram o  nome de Kurt Cobain e a filha do lendário cantor dos Nirvana. Amada por uma legião de fãs, é por outro lado odiada por inúmeros críticos que acreditam que Lana não sabe cantar e que só deve o seu sucesso à imagem. Entretanto, há certeza de uma coisa: Born To Die já é considerado um dos álbuns da década.

Não se pode falar de Lana Del Rey sem se falar da sua voz. Quem a ouvir, poderá achar que a artista está embriagada e, verdade seja dita, talvez não se afaste muito da realidade. O álcool foi um grande problema da sua adolescência e ainda hoje sobe frequentemente aos palcos com um copo de vinho. Uns gostam, outros odeiam. No final, acaba por ser tudo tudo uma questão de gosto.

Concerto de Lana Del Rey - Super Bock Super Rock 2012 - Fotografia: Eduardo Aranha

No meu caso, julgo que foi uma dessas artistas que primeiro se estranha e depois se entranha. A voz não era definitivamente aquilo a que estava habituado a ouvir. A curiosidade de ouvir mais tornou-se em mais do que curiosidade. E, inesperadamente, um passatempo ganho na véspera do festival Super Bock Super Rock, em 2011, levou-me de repente do Porto para a praia do Meco, onde assisti ao concerto de Lana Del Rey quase em primeira fila. A fotografia acima é uma das muitas que capturei durante este memorável concerto que encheu o recinto.

Born To Die: a bela melancolia de Lana Del Rey

Apesar de ter lançado um primeiro álbum em 2010, foi apenas com Born To Die que Lana Del Rey se consagrou no mundo da música.

O primeiro single deste álbum, Videogames, começou por ser uma sensação no final de 2011. Acompanhado por um vídeo realizado pela própria artista – que mesclava imagens de skaters, de filmes antigos e desenhos animados –, Videogames expôs a personalidade sensível de Lana Del Rey. Os videojogos tão populares desde os anos 80 são utilizados como uma metáfora, expondo as peculiaridades de uma relação e a falsa ideia de felicidade.

born to dieSegue-se então Born To Die. Tal como Videogames, Lana Del Rey insiste em mostrar a rapariga frágil e triste, usando a voz como adereço para criar tal personagem. A música que dá nome ao álbum é no entanto mais provocadora do que o single anterior: com referências mais atrevidas e sexuais, explora as contradições de uma relação amorosa que está condenada ao fracasso.

Mas não há apenas melancolia no repertório de Lana Del Rey. Off to the Races é uma das poucas músicas onde a artista foge a este seu registo mais triste. Mais animada e ritmada, a música contrasta claramente com Summertime Sadness, Carmen e Dark Paradise. A faixa bónus Lolita, incluída apenas na edição especial, também consegue fugir ao sentimento que Lana nos habitua nas faixas anteriores, embora seja uma clara referência ao romance Lolita de Vladimir Nabokov, que explora o caso pedófilo entre um professor e uma aluna.

   

Estados Unidos de Lana Del Rey

Lana Del Rey é também uma espécie de princesa a quem o sonho americano não chega. A sua experiência e passado refletem-se grandemente na letra das músicas que canta. Ela mesma compôs a maioria delas. Nascida e criada em Nova Iorque e com uma adolescência perturbada  por álcool, Lana Del Rey – nome artístico para Elizabeth Grant – assume-se frequentemente como a típica rapariga americana.

Ao longo do seu trabalho, tanto discografia como imagens promocionais, faz-se acompanhar frequentemente por símbolos norte-americanos. A música Blue Jeans contém alusões ao clássico estilo americano que James Dean, um dos maiores ícones do cinema americano, protagonizou: calças de ganga e t-shirt branca.

Se continuarmos a ouvir o álbum encontramos Diet Mountain Dew, faixa que recebe o mesmo nome de um refrigerante bem conhecido nos EUA, e que explora a problemática dos vícios e dependências.

National Anthem, por outro lado, assume-se como um hino à decadência do sonho americano e integra melhor do que nada a simbologia dos EUA. O dinheiro é o hino do sucesso é a emblemática frase que marca a abertura da música, que nos conduz a uma América cujo sonho tem como base dinheiro, corrupção e evoca subtilmente a guerra do Vietname.

No videoclip da música é retratado o assassínio de J. F. Kennedy mas com pequenas alterações. Lana Del Rey surge como uma Jackie Kennedy alternativa, casada com um presidente negro e algo gangster. O início do vídeo contém ainda uma óbvia referência a Marilyn Monroe, outro grande ícone dos EUA (ainda que polémico), quando Lana Del Rey surge a preto e branco a cantar Happy Birthday para o Presidente.

O álbum Born To Die foi reeditado numa versão especial com 8 novas músicas, alguns meses depois do seu lançamento. Em 2014, Lana Del Rey lançou o seu terceiro álbum Ultraviolence e está previsto o lançamento de um quarto álbum, desta vez intitulado Honeymoon, para o verão de 2015.

Gostava de assistir a um concerto de Lana del Rey? Clique no LINK para receber avisos quando a artista anunciar um novo concerto!


POSTS RELACIONADOS

Share this article

Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *