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Black Sabbath em São Paulo: o último ato em terras tupiniquins

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Black Sabbath em São Paulo: o último ato em terras tupiniquins

by Marcone Scalon e Silva

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A resenha do último show de 2016 demorou a sair, mas todos sabem como funciona o trabalho em final de ano… É uma loucura só! No dia 11 de outubro de 2013, o Black Sabbath fazia em São Paulo, no Campo de Marte, o show da turnê que, segunda a produtora, seria a “Primeira e única vez juntos no Brasil”. Para a minha sorte, e de todos os 68 mil presentes no Morumbi, a produtora estava enganada.

O Black Sabbath retornou em 2016 para uma nova passagem em terras brasileiras, dessa vez com a turnê intitulada “The End” – uma clara referência a uma última volta ao mundo, com a formação “original”. Não podemos considerar a banda original, por completa, pois não há a presença do baterista, Bill Ward, comandando as baquetas.

Nessa última turnê, bem como em 2013, a missão ficou a cargo de Tommy Clufetos, o caçula da banda, com 37 anos de idade, responsável também pela bateria no projeto solo de Ozzy Osbourne.

Entretanto o restante da banda estava presente, de corpo e alma: Ozzy Osbourne (68, vocalista), Tony Iommi (68, guitarrista) e Geezer Butler (67, baixo). É realmente impressionante a vitalidade e energia desses quase setentões! Vale destacar que o Sr. Iommi passou por um tratamento contra leucemia, antes dessa última turnê.

Por sua vez, Ozzy já fez tanta coisa errada nessa vida, que o simples fato dele estar conseguindo se locomover sozinho – quem dirá cantar para milhares de pessoas – representa um marco e tanto, que deveria ser estudado pela medicina. Pode até parecer exagero da minha parte, mas procure se informar melhor a respeito da vida dele e saberá do que estou falando.

Só para matar um pouco da curiosidade, Osbourne já comeu um morcego vivo durante um show feito na década de 80, mais precisamente em 1982. Foram vários e vários dias no hospital, entre a vida e a morte, até se recuperar totalmente. Isso sem contar os excessos com drogas e álcool. Enfim, esse tem história demais para contar!

Mas, apesar de ser fã dos inventores do Heavy Metal, como o Black Sabbath é conhecido pela grande maioria da mídia especializada, esse show era ainda mais especial para mim, por conta de outra banda: Rival Sons. Para quem não conhece, o Rival Sons é uma banda que faz um rock/blues bem inspirado na década de 70 e 80. É aquela banda nova, mas que faz o (excelente) som “antigo”.

Em São Paulo, especificamente, ainda houve uma segunda banda de abertura, antes do Rival Sons: o Doctor Pheabes.  Contudo, não vou comentar muito sobre o show desses brasileiros. Temos, no cenário nacional, várias bandas que poderiam ter feito a participação em um espetáculo dessa magnitude, representando nosso país de uma forma muito mais honrosa. Banda fraca, que não empolga o público, com a melodia ou letra.

Rival Sons: mantendo a chama do rock viva!

O Rival Sons foi escalado para fazer a abertura de todos os shows da derradeira turnê mundial do Black Sabbath. Tamanha responsabilidade não vem por acaso.

A banda californiana, surgida em 2008, é uma das grandes promessas do cenário atual. As composições são extremamente ricas, além de terem influência das belas (e psicodélicas) melodias da década de 70… Os americanos não deixam a peteca cair em momento algum, seja ao vivo ou no estúdio!

Com 5 notáveis álbuns de estúdios lançados, em apenas 8 anos de carreira, eles conquistam cada vez mais fãs, alguns deles sendo verdadeiras lendas do rock! O principal que eles conquistaram até hoje foi justamente Ozzy Osbourne. O “príncipe das trevas” fez uma turnê com sua banda solo em 2015 – tendo passado inclusive pelo Brasil, no festival Monsters of Rock – e conheceu o trabalho deles ao vivo.

A iniciativa de convidá-los para a derradeira turnê mundial do Black Sabbath partiu exatamente de Ozzy! O Rival Sons, que tem Jay Buchanan (vocal), Scott “Fuzzlord” Holiday (guitarra), Mike Miley (bateria), David Beste (baixo) e o convidado para turnês Todd Brooks (teclados), iniciou o show por volta das 19h. A introdução é a música tema de “Três Homens em Conflito”, clássico do velho oeste, estrelado por Clint Eastwood.

Nota-se, logo de cara, que eles gostam mesmo das coisas mais antigas! No total, foram apenas 7 músicas executadas, mas que deixaram aquele gostinho de “quero mais”. A primeira delas foi “Eletric Man”. Uma música energética, com a guitarra na cara, indo bem direto ao ponto – como manda o manual! Ótima escolha para abertura de qualquer show! Claro que a guitarra tem grande destaque aqui, bem como a cozinha (bateria + baixo), mas é inegável o talento do vocalista, Jay Buchanan.

Ele tem a capacidade de segurar (e bem demais) os falsetes, com agudos realmente fortes, lembrando muito Robert Plant, voz inconfundível do Led Zeppelin, tornando o show realmente explosivo e energético! Sem muito tempo para descanso, eles emendaram “Secret”. Essa, assim como a primeira música, faz parte do excelente álbum lançado em 2014, “Great Western Valkyrie”. Ela funciona muito bem ao vivo, com espaço para improvisações, mantendo o público agitado!

Logo depois de um “Muito obrigado” por parte de Jay, foi a vez de “Pressure and Time”. Essa é a música mais conhecida deles, pertencente ao homônimo álbum lançado em 2011. Uma música bem direta, bem hard rock dos anos 70! Palmas para os Sons!!!

Com o Rival Sons não existe descanso e logo se ouviu os acordes de “Open My Eyes”. Uma linha de guitarra bem “zeppeliana”, que juntamente com as levadas e viradas de Miley, no seu kit de bateria, torna a música grandiosa demais! Não havia ninguém parado!!  Ao final dela era perceptível a reação muito positiva e empolgada de todos os presentes!

Eles decidiram acalmar um pouco o clima e iniciaram a excelente, e psicodélica, “Fade Out”, retirada do último álbum “Hollow Bones”. Uma canção bastante influenciada pelo Blues setentista e com a psicodelia na medida certa! Que grata surpresa!

Era o momento de voltar alguns anos no tempo para executarem “Torture”. Essa é a composição mais longa deles, quando tocada ao vivo, repleta de jams, com o público batendo palmas e empolgando ainda mais os músicos, que tinham a plateia, cada vez mais, nas mãos!

Mas, infelizmente, tudo que é bom dura pouco… Depois de Jay apresentar todos da banda, Mike e Mr Fuzzlord deram início a tacada final! “Keep on Swinging” começa com a força da bateria e da guitarra abrindo caminho para Buchanan soltar sua esplendorosa voz!

Vale destacar o solo de baixo e a “quebrada” no meio da música! Coisa de gente grande, de quem sabe o que faz – especialmente ao vivo! Um show magnífico, que empolgou a todos os presentes, inclusive os que desconheciam a banda. Show digno de uma abertura do Black Sabbath!

Set list Rival Sons:

Electric Man

Secret

Pressure and Time

Open My Eyes

Fade Out

Torture

Keep On Swinging

Black Sabbath: o ato final!

O Black Sabbath iniciou sua trajetória em 1970. Nesses 46 anos de banda houve várias formações, diversos discos lançados, milhares de shows realizados por todo o mundo. Mas a formação inicial estava presente no derradeiro show em terras brasileiras, com exceção do baterista, como já foi previamente explicado.

Por volta das 20:30h, as luzes se apagaram e se ouviu: “Let’s go… Ha-ha-ha-haaa!!!” Era ele, Ozzy Osbourne, o Príncipe das Trevas, anunciando o início do último show da turnê brasileira, que passou também por Porto Alegre, Curitiba e Rio de Janeiro.

Foi um show repleto de clássicos, que não contou com nenhuma música sequer do último álbum lançado por eles, “13”. Apenas clássicos foram reservados para a turnê de despedida! E nada melhor do que iniciar a noite de clássicos com “Black Sabbath”, música que abre o homônimo álbum de estreia.

Era notável a empolgação do público com os primeiros riffs executados por Tony Iommi, em sua Gibson SG! Quem conhece sabe que essa música tem um clima de suspense, típica dos percursores do heavy metal. Ozzy pode não ter mais a voz de outrora, mas a empolgação de um setentão pulando no palco e abrindo um largo sorriso com a reação do público é extremamente gratificante.

Destaque também para o baixo de Geezer Butler e para o canto em uníssono de todos! Isso na primeira parte da música, pois depois daquela típica “quebrada”, a empolgação cresce com todos pulando e agitando ao som dos velhinhos metaleiros!

Uma cena linda demais!! Nem a chuva, que não deu trégua, foi um problema! Pelo contrário, a melhor forma de se manter aquecido com a água fria, que caia naquela noite paulistana, era pulando e agitando sem parar! Tarefa fácil para todos os presentes!

Sem muito tempo de descanso e eles já emendaram “Fairies Wear Boots”. Aquele riff inicial de guitarra, com a entrada da bateria, acompanhada do poder imposto pelo baixo, fizeram a alegria de todos! Era impossível ficar parado!! O refrão cantado pelos presentes abafava a voz de Ozzy. Realmente uma honra fazer parte de um momento tão histórico!

   

E o solo do canhoto Iommi, coisa rara no meio musical, no meio da música!? É como ver um mago comandando sua plateia! E olha que ele nem tem as pontas dos dedos da mão direita, perdidas em um acidente, quando ainda trabalhava como um operário industrial. Que belo início de show!! Mas depois de duas músicas vem um descanso, certo?

Errado!

Era hora de “After Forever”, retirada do álbum “Master of Reality”, lançado em 1971. Claro que Iommi se destaca em todas as músicas do Sabbath, mas vale ressaltar o quanto Butler realmente consegue manter a pegada lá em cima, executando linhas de baixo para deixar qualquer um de boca aberta!

Era a vez de “Into the Void”, mais uma extraída do mesmo disco de 71. No entanto, antes de iniciar a música, Ozzy deu uma palinha de “Singing in the rain”, brincando com a chuva que não dava trégua.

O início do riff fez a galera agitar cantando o clássico “Hey…Hey…Hey!” , com punhos ao alto, no ritmo da música! Ela segue esse ritmo até dar aquela acelerada no meio para o final. Impossível ficar parado! Dos mais velhos aos mais jovens, homens e mulheres…Todos pulando e cantando!

Destaque nessa música para o grande baterista Tommy Clufetos! Uma acertada escolha para substituir Bill Ward. Os motivos dessa substituição são controversos, portanto não vou me envolver em detalhes que ainda não foram esclarecidos.

A próxima música vem do álbum de 1972, “Vol.4”, chamada “Snowblind”. Ela fala sobre a cocaína, substância química ilegal bastante usada no meio musical, especialmente por eles na época. Mas apesar de ser uma bela música, melodicamente falando, a letra trata do problema do vício enfrentado por quem faz uso da substância.

Depois dela, veio a apresentação da banda. Todos foram muito ovacionados pela plateia, no entanto um deles se destacou: o guitarrista Tony Iommi. Não apenas pelo fato de ele ter mantido a banda viva, pois esteve presente em todas as formações nesses 46 anos de história, mas também por ter vencido a batalha contra o linfoma, descoberto em 2012.

E foi papel dele iniciar a música seguinte: “War Pigs”, do álbum “Paranoid”. Uma música tão conhecida que até mesmo os riffs de guitarra são acompanhados pelo público através “Ô, Ô, ÔÔÔ…”, que logo depois acompanha o baterista Clufetos batendo palmas! Mal dava para ouvir o som vindo do palco, apenas da plateia!

Claro que essa foi mais uma das músicas em que não se ouvia a voz de Ozzy, pois a mesma era abafada pelo canto vindo do público! Muita agitação tomando conta de todos os presentes!! Ninguém parado, todo mundo pulando e cantando, mesmo embaixo da chuva!! Uma cena realmente marcante!

Não há outro integrante para se destacar nos 8 minutos dessa música: Iommi! Ele comanda o público com sua guitarra! Um show à parte! Um clássico dos clássicos do Heavy Metal! Depois disso, sem muito tempo a perder, foi a vez da tríade, vinda do primeiro álbum: “Behind the Wall of Sleep”, “Bassically” e “N.I.B”. A primeira não foi cantada por todos, como a grande maioria, mas tem aquele riff que gruda na cabeça.

A segunda, como o próprio nome diz, é tocado por apenas um integrante: Geezer. Nesse solo de baixo, que virou música, o baixista mostra por que é considerado um dos melhores do mundo.

Incrível ver um homem de 68 anos de idade tocando com tamanha maestria e agilidade nas mãos! Oportunidade essa, que poucos privilegiados tiveram! Fazer parte desse seleto grupo é uma gratidão, e satisfação, enormes! Obrigado, Geezer Butler!

Nem preciso dizer quem inicia a música “N.I.B”… É o som da Gibson SG que emana das caixas, provocando uma explosão nos presentes! É realmente notável como uma banda formada por tantos veteranos consegue agitar uma plateia de quase 70 mil pessoas! E o solo de guitarra presente no final então? Emocionante demais!!!

Mais uma clássica do disco “Paranoid”, a instrumental “Rat Salad” foi executada, logo em seguida. Um tempo de descanso para Ozzy. Outro ponto de destaque do show, mas que se torna mais perceptível sem o vocalista: o entrosamento da banda. Baixo, bateria, guitarra e o tecladista convidado, Adam Wakeman, muito bem alinhados!

Era chegada a hora dos mais velhos descansarem e abrirem passagem para o caçula da formação: Clufetos. Em um solo de bateria que durou cerca de 10 minutos, ele não deixou a “peteca cair” e manteve o público aceso. Coisa rara para os solos de bateria, mas com uma execução tão empolgante, foi tarefa fácil para ele!

De repente, fim do solo. Apenas aquela batida seca no bumbo, contando o tempo… Era a vez de “Iron Man”! Mais uma vez, quando o riff de Iommi começou a rolar pelo estádio, se deu início ao “Ô, Ô, ÔÔÔ, ÔÔÔÔÔ…” na plateia, que também abafou a voz de Ozzy, ao cantar a plenos pulmões, a letra por completo!

Destaque novamente para Iommi, que acompanhado da bateria e do grandioso baixo de Butler fizeram a alegria da geral! Mais uma clássica, mais um momento inesquecível! Vale ressaltar também o sorriso, de orelha a orelha, estampando no rosto de Ozzy Osbourne! Fim de música, mas não de show! Era a vez da única retirada de um álbum diferente dos quatro primeiros lançados pela banda: “Dirty Women”, vinda de “Technical Ecstasy”, lançado em 1976.

Incrível como uma música mais rock n’ roll, menos sombria, muda completamente ao vivo, com o timbre característico de Iommi e sua SG. Sinceramente, eu não conhecia essa, mas é espantoso o quanto esses caras sabem o que estão fazendo! Agitar a plateia é com eles mesmo!

Hora de voltar ao álbum “Master of Reality” com a clássica “Children of the Grave”. Impossível não pular com um riff tão contagiante, acompanhado pelo baixo e bateria! E os riffs dessa música são tantos que seria injusto destacar um ponto mais alto.

O ato final, já no BIS, veio com a não menos clássica “Paranoid”! Todos pulando, gastando as últimas reservas energéticas, cantando em uníssono com Ozzy! E tome chuva!!!

Ela não incomodou o show todo… Não seria na última música que isso faria diferença! Uma música maravilhosa, executada pelos mestres do Heavy Metal!

Todas as bandas que surgiram de música pesada vieram, necessariamente, depois da década de 70 e tiveram influência deles! Um show inesquecível, para fechar 2016 com chave de ouro, dos mestres de um dos maiores gêneros da música contemporânea: o Heavy Metal!

E que venha 2017!

Até a próxima!

Set list Black Sabbath:

Black Sabbath
Fairies Wear Boots
After Forever
Into the Void
Snowblind
War Pigs
Behind the Wall of Sleep
N.I.B.
Rat Salad
Iron Man
Dirty Women
Children of the Grave

BIS
Paranoid

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