Vodafone Paredes de Coura 2018 (dia 3): A viagem no rasto da morte e a tortura
Findo o terceiro dia da edição 26 do Vodafone Paredes de Coura este escriba foi assaltado por uma dúvida, mas só o futuro a poderá dissipar. Mas disso falaremos mais à frente, porque conversemos agora sobre o que de bom aconteceu.
Segura e, de certa forma, esperada foi a viagem com os Slowdive, daquelas bandas que é um gosto e um privilégio ouvir no anfiteatro natural de Coura. Foi, uma vez mais, verdadeira levitação espiritual em que as vozes e as guitarras têm o condão de dar ênfase a uma sonoridade que é, definitivamente, muito bela.
Do novo álbum, o primeiro em 22 anos, o epónimo «Slowdive» (2017), ouviram-se uns quantos temas, mas também de outros discos mais antigos, ainda sempre tão frescos, saíram temas para preencher um concerto que mais pareceu uma ode à beleza.
É uma viagem que se faz sempre com enorme prazer, especialmente, no pastoril recinto do festival.
Quando os Slowdive libertaram os primeiros acordes no Palco Vodafone, acabava no «FM» o poderoso concerto dos… And You Will Know Us By The Trail of Dead.
O rasto de morte dá-os, de facto, a conhecer e neste regresso a Coura os nova-iorquinos voltaram a mostrar do que são feitos. Guitarras endiabradas, como que a fugirem da morte, num rebuliço constante que, obviamente, contagia o público.
Catarse sonora que sabe sempre tão bem por estes dias.
Pelo palco principal haviam passado também Kevin Morby, que para a hora, foi agradável e também os DIIV, que se experimentaram muito bem, com um concerto consistente e competente. Foram, sem dúvida, das coisas boas que se ouviram no terceiro dia do festival.
Bem, depois a coisa descambou. Reconheço que o hip-hop não é música que me assiste e menos ainda da variante grime, pelos vistos o que Skepta levou até ao Taboão.
Meus amigos, foi uma verdadeira tortura. Porém, em abono da verdade, diga-se que a enorme massa de festivaleiros mais jovens, e que cresce de ano para ano, fizeram a festa total, dançando, saltando, cantando. Vislumbrou-se, inclusive, mosh!
Agora, um indivíduo que canta palavras de ordem contra a autoridade e a norma e tenta passar uma imagem de duro contra o sistema não deve, não pode ser um queixinhas. A determinada altura, Skepta parou a actuação para que a organização pedisse aos fãs que parassem de mandar coisas para o palco. Pazes feitas e a festa continuou.
A celebração aconteceu e foi intensa, mas para quem vai a Coura para ouvir rock e derivados não muito afastados foi difícil.
E mais difícil se tornou quando a espera era para observar as Pussy Riot e a coisa piorou.
É louvável o activismo sócio-político, mas a intervenção merecia alguma qualidade musical e até performativa. Houve, sim, logo a abrir uma extensíssima lista de reivindicações, 25 para ser exacto, um («dick») deejay a debitar batidas e sons para as rimas da pussy que escapou à prisão e ainda mais três bailarinas que surgiam em palco para incitar, não à revolta, mas à dança.
Que musicalmente a coisa é fraquinha, já se sabia, mas sem uma presença como as que as notabilizou nas intervenções que fazem na Rússia, com guitarras e muita agitação, a coisa não pega mesmo.
Só restava mesmo ir descansar e, pelo rasto da morte, seguir viagem até casa.
Antes, nota ainda para os vimaranenses Smartini que abriram o Palco Vodafone.FM com um concerto consistente e à imagem do que já habituaram quem os conhece. Fazem parte de uma juventude sónica que não se pode perder de vista!
Já quanto à dúvida com que abri esta prosa, ela é muito simples e clara e, na conferência de Imprensa com o director do festival, João Carvalho, este vosso escriba tentou dissipa-la, questionando: “Corremos o risco de dentro de alguns anos Paredes de Coura ser um festival de hip-hop, com o rock em dose residual?”.
A resposta foi algo dúbia, pelo que, como disse a abrir, só o futuro a dissipará em definitivo.
Fotos: Sofia Salgado Mota e Hugo Lima
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CARTAZ VODAFONE PAREDES DE COURA 2018