Primal Scream no Hard Club: A festa rock em tons rosa-choque
Enfiado num estreito fato rosa-choque, Bobby Gillespie abordou o palco aparentemente distante e a medo, mas não passaria de uma primeira e errada impressão.
A noite revelar-se-ia prodigiosa e teve como protagonista o mentor dos Primal Scream, cuja apresentação no Hard Club, no Porto, se deveu ao lançamento da retrospectiva «Maximum Rock’n’Roll – The Singles», uma edição remasterizada dos singles que fazem (um)a história de mais de três décadas da banda escocesa.
«Don’t fight it, feel it» foi o mote de abertura e o primeiro convite do escocês para que o público também fizesse seu aquele concerto. E foi o que, de facto, se passou, num ambiente de perfeita empatia entre um público que encheu meia casa (fisicamente), mas que a transbordou de alegria e diversão.
Concertaço, minha gente! O homem estava com disposição, a banda demonstrou um empenho extraordinário e a mole correspondeu em pleno.
Aliás, foi em completa festa que o concerto terminou, numa osmose perfeita entre palco e plateia, para satisfação do público e também dos músicos, em especial de Bobby Gillespie, bem visível nos rasgados sorrisos que esboçou ao longo da actuação.
Da variedade de cores e de ritmos que formam a paleta sonora dos Primal Scream saem imensas e diversas sonoridades e que em comum têm o alcançar aquele lugar em que os espíritos se libertam, as mentes ficam divertidas e os corpos sentem uma pulsação endógena indomável.
E foi, precisamente, o que aconteceu com «Swastika eyes» e o seu ritmo frenético e, depois, com «Miss Lucifer» e «Can’t go back», sempre e em constante apelo à dança.
Seguiu-se «Kowalski» para, então, Bobby sossegar um pouco as almas com «I’m losing more than I’ll ever have» e «Higher than the Sun».
Cândido nos gestos, efusivo na angariação de palmas junto da plateia e sempre de olhar semi-cerrado, Bobby Gillespie assumiu uma postura algo tímida, apesar do rosa-choque e conduziu a massa humana pela viagem musical que tem sido a sua vida ao longo de mais de 30 anos aos comandos dos Primal Scream.
E o ambiente de festa voltaria, logo de seguida, com «Velocity girl» e o inebriante «Dolls (Sweet Rock and Roll): “Don’t want your diamonds/Don’t want your gold/I want your love/I want your soul/Come on baby, let’s have a good time”.
Acompanhado por Andrew Innes, na guitarra, Martin Duffy, nos teclados, Darrin Monney, na bateria, e Simone Marie Butler, no baixo, Bobby Gillespie encetava, então, o «grand finale».
«Burning wheel» e «100% or nothing» criaram a atmosfera para um dos momentos mais festivos da noite, aquele em que toda a gente ficou… «Loaded».
A primeira despedida aconteceu em partilha total e ao som de «Movin’ on up» e «Country girl».
Fora uma hora de viagem por um universo musical frutuoso, interessante e psicadélico q.b. para fazer sonhar, dançar e divagar o pessoal através do sorriso rasgado de Bobby, dos riffs de Innes ou do sexy gingar de Simone (no seu «affaire» permanente com o baixo!).
O regresso a palco deu-se ao som de «Come together», com o público a passar, definitivamente, a fazer parte da actuação, cantando, ora com Bobby, ora em coro apenas, naquele que foi o momento de maior de partilha e união entre os dois lados do palco… ou não se cantasse em uníssono «come together as one”!
Festa total, com a plateia transformada em pista de dança sob o olhar cândido e o sorriso afável e desconcertante de Bobby Gillespie.
«Jailbird» e «Rocks» colocaram um ponto final numa noite grandiosa, onde mais uma vez ficou provado que as pessoas envelhecem (umas melhor do que outras, é certo!), mas a boa música resiste ao tempo como poucas coisas neste mundo.
Mais de três décadas de músicas, algumas verdadeiros hinos, que, quando bem interpretadas (como foi o caso), é sempre um prazer ouvir.
Um enorme bem-haja para Bobby Gillespie, que se apresentou aparentemente algo distante, mas que demonstrou uma presença enorme no palco do Hard Club… sempre em tons rosa-choque!
Fotografias: Pedro Vasco Oliveira