Ver concertos com desconhecidos pode parecer estranho, mas só o é até ao momento em que se os conhece. Aí, ou não interessam ou passam a não desconhecidos. Vem isto a propósito de que parti para o Alive! sozinho, portanto, na perspetiva de ver concertos apenas com desconhecidos.
Porém, quando se encontra um amigo (ainda por cima, grande amigo!), que traz amigos que, por sua vez, trazem outros amigos. Bem… “traz um amigo também”! Todos, à excepção de um, me eram desconhecidos, mas como, em princípio, amigo do meu amigo meu amigo é, saltámos a fase do conhecido e seguiram-se três dias de festa.
Convém dizer que o dito amigo era, nem mais nem menos, o rock! O rock’n’roll… Sim, esse amigo de longa data que tantos amigos já me deu.
Ora, aqui chegados, olhando aos três dias de festival e regurgitando sensações, este vosso escriba arrisca um pódio, (como diria o outro!) de três, daquilo que foi o Alive!2017, e sempre pelo olhar afastado de um jornalista que ali não estava (oficialmente).
Sem escolhas crescentes ou decrescentes, os três nomes eleitos são Savages, Royal Blood e Foo Fighters. E são três distintas razões que levam a esta escolha, sendo que o denominador comum para serem destaques é o rock que praticam e que guindam as plateias ao rubro.
Foo Fighters, os mais maduros, apesar do tamanho, é sempre rock desbragado, polvilhado de improviso, pleno de energia, carregado de mística, berrado à exaustão (do público!!) e que provoca sorrisos rasgados (basta olhar para o baterista Taylor Hawkins).
Já o «power duo» Royal Blood é rock à bruta… como se gosta, afinal! O duo londrino, baixo e bateria, há muito estava sinalizado, mas, não sei por que razão ou razões, era um desconhecido. Bendita a hora em que o conheci no Palco Heineken do Alive!2017… e logo no primeiro dia! Foi o melhor aperitivo que se podia ter.
The last but not the least, Savages. É difícil a este escriba verbalizar o som e o(s) concerto(s) das quatro mosqueteiras do rock, porque só surgem palavrões, provavelmente as expressões mais fidedignas para descrever o que é assitir a um concerto das britânicas, se me percebem!
Mas vamos lá, a masculinidade imagética reflecte-se no som, as músicas são excelentes e a presença em palco é portentosa e motivadora. Apesar da fragilidade feminina evidente (talvez, não em todas!), a postura e a interação com o público são de uma pujança fortíssima e de elogiar.
Viagem pelo repertório e muita energia dos dois lados do palco, apesar de, como habitualmente, o mosh não ser coisa que assiste muito ao público do Alive!.
Como alerta final: “Don’t let the fuckers take you down!”.
Viagens loucas por cordas endiabradas e ritmos intensos, num equilíbrio sempre periclitante, mas que fixa e agarra quem se predispõe a fazê-las.
Mas falemos do resto, não de todo, porque era muito e é impossível ir a todas. Impossível!
A lembrança mais forte é dos The XX. Que belo concerto! E bem podiam figurar num pódio, se este fosse de quatro! Divagando pelo seu universo muito próprio, o trio estendeu o manto electrónico picotado de rock melodioso e doce, mas pejado de (sã) agressividade contida.
A música dos The XX, que ao vivo nada perde (ao contrário do que se possa pensar), bem pelo contrário, é feita de temas que dão uma banda-sonora de vida perfeita…. para muita gente.
E já que falamos de electrónica, aproveitemos o embalo e falemos dos Depeche Mode, que fecharam a edição 2017 do Palco NOS.
Nada de extraordinário, mas, à semelhança de outras ocasiões a que assisti, cumpriram, com Dave Gahan a não deixar a plateia indiferente. Apesar de o concerto ter servido de apresentação do novo trabalho discográfico de originais, «Spirit», a banda não passou ao lado de alguns dos seus grandes sucessos para gáudio da plateia.
Com direito a menção honrosa houve ainda alguns concertos, como sejam o dos The Kills (rock on!), Wild Beasts, Spoon, Cage the Elephant e dos portugueses Cave Story e Filho da Mãe.
De assinalar ainda, mas sem grande destaque, a actuação dessa instituição que são os The Cult. Os anos passam por todos e Ian Atsbury não é excepção, no entanto, o guitarrista Billy Duffy assemelha-se ao vinho do Porto e os anos contam para a qualidade. Mesmo assim, ver The Cult hoje já não é, definitivamente, a mesma coisa… infelizmente!
No rol das desilusões, porque não convenceram, em definitivo, os Alt-j, os Imagine Dragons e ainda os Kodaline. Esperemos que tenha sido apenas um mau dia, mas… não sei!
Por fim, apesar de, como quase toda a gente, gostar muito do fim-de-semana, The Weeknd não é, claramente, a praia de quem tem no rock’n’roll os alicerces, como é o caso deste escriba. Casa cheia para assistir ao concerto e, pela aparência, uma grande festa, mas… não!
E para não terminarmos em baixo, lembrar o momento dançante que Switchdance proporcionou no dia de fecho. Não podia ter havido melhor despedida, apesar de Peaches e partenaires estarem em mamas no palco ao lado!
Switchdance foi um primor e serviu para sacudir todo o pó e fechar a edição 2017, no que toca a este vosso escriba, em beleza.
Em 10 anos o festival de música Alive! mudou muito. Acima de tudo, cresceu.
Cresceu em área, cresceu em número de pessoas, cresceu em número de palcos e é hoje um mega festival, à escala de Portugal.
Contudo, o crescimento em termos de área não o tornou melhor para ver concertos, apesar de conferir mais conforto, num espaço que por si não é atractivo, aos festivaleiros, em termos de público acarreta cada vez mais dificuldade em assistir aos concertos e até na movimentação pelo recinto e em termos de palcos… bem, neste capítulo continua a fazer-me uma enorme confusão o que faz um palco de fado no meio de um festival de pop-rock.
É certo que é necessário entreter toda aquela gente que se desloca até são Passeio Marítimo de Algés, o que o palco Comédia faz com mestria, se bem que também seja um atalho que acaba por transformar algo que devia ser dedicado às sonoridades pop-rock em algo híbrido, mas… fado? Ou seja, olhando bem nem é peixe nem é carne.
Porém, o festival Alive! continua a ser uma referência no panorama dos eventos do género em Portugal e, apesar de ser o mais novo dentre os grandes festivais que o País acolhe, é seguramente o maior e o que amiúde consegue trazer os grandes nomes da cena internacional, a maioria já com um (senão os dois) pé(s) no chamado mainstream, que os demais festivais de música da primeira divisão não têm envergadura para os trazer.
Para o ano há mais, entre os dias 12 e 14 de Julho, no lugar do costume, ou seja, o Passeio Marítimo de Algés.