Janot: o filho da estrela Linda de Suza
Quando há uns tempos li uma interessantíssima entrevista a Linda de Suza, em que a ex-cantora fazia afirmações no mínimo hilariantes, e dias depois a colega jornalista que a escreveu me confidenciou que a senhora a ameaçou com um processo por certamente não estar de acordo com os absurdos que ela mesmo tinha proferido, recordei uma certa tarde de Agosto de 1997 em que fui entrevistar o seu filho, Janot, que acabava de lançar o seu primeiro disco.
Num restaurante de Matosinhos, acompanhado pela sua esposa e filhos, ouvi-o, humilde e inseguro, falar-me de sua mãe e de seu pai, “um português que só vi uma vez, que me deu nome mas que nunca esteve presente”, do medo que tinha por ser “filho de um estrela”, pois “nunca se sabe se vou ser aceite por mim ou por ser filho da . Quero reencontrar-me e ser reconhecido pelo que faço e não pela mãe que tive”.
Notei que Janot tinha alguma pedra no sapato com a senhora que cantou “Mala de Cartão” e decidi indagar. Desvendei que a ponta do iceberg tinha sido uma telenovela sobre a mãe – que foi transmitida para Portugal e mais 14 países do Mundo em 12 episódios – que deixou o jovem cantor desesperado.
“Fiquei muito chocado porque aquilo não foi nada fiel. O meu avô aparecia sempre bêbado e a minha mãe fazia coisas que eu nem imaginava. Mas o pior foi mesmo ver imagens que eram só minhas e que foram vistas por milhões de pessoas. A minha mãe contou tudo sobre si ao realizador, esquecendo-se que a vida dela também era a minha”. Invadiram o jardim secreto de Janot graças à língua da mãe, o que deixou o rapaz confessamente “revoltado”.
Nunca mais vi nem ouvi falar de Janot mas lembro-me de o ter escutado cantar com uma postura que tinha tanto de dor como de mágoa, um não saber se queria viver em Portugal se em França, da forma como se sentia “uma espécie de toureiro na arena a chamar o touro”. Janot tinha então 29 anos, estava casado desde os 20, mas ainda não se tinha encontrado.
Expôs que quando começou a actuar fazia-o essencialmente em restaurantes e “era horrível porque as pessoas não me ligavam nenhuma”. Até que dizia que era filho de e aí as coisas mudavam de figura. Perguntavam-lhe pela mãe, ele sentindo o mesmo medo, a mesma frase batida: “é mesmo muito difícil ser filho de uma estrela”. Mesmo que a estrela tivesse uma mala de cartão que provavelmente nem para reciclar deve servir.