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George Martin: o verdadeiro e único quinto Beatle

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George Martin: o verdadeiro e único quinto Beatle

by Gonçalo Sousa

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George Martin será para sempre reconhecido como o homem que fez os The Beatles crescerem para o estrelato universal. O produtor musical que faleceu em 2016, com 90 anos, encontrou os Fab Four em 1962 e soube logo nos primeiros momentos em que os ouviu que aquele grupo de rapazes britânicos tinha potencial para fazer boa música… e música capaz de marcar uma geração.

Em 1962, os The Beatles já existiam há dois anos e, nas mãos do empresário Brian Epstein, não tinham alcançado muito sucesso, encarando dificuldades para conseguirem um contrato de gravação com uma editora. Foi por isso mesmo que o mítico manager procurou alguém capaz de dar um empurrão aos rapazes e encontrou em George Martin um produtor à altura do desafio.

Na sua biografia, George Martin contou em primeira mão aquilo que achou dos The Beatles quando os conheceu. “A gravação, para não dizer muito, era sem dúvida um estrondo”, podemos ler no livro All You Need Is Ears (1979). “Conseguia entender muito bem por que razão as pessoas recusaram aquele grupo, mas havia também uma qualidade sonora incomum, uma certa crueza que nunca tinha visto antes. Havia ainda o facto de terem mais do que uma pessoa a cantar.”

Interessado em ver e ouvir mais, George Martin chamou então John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Pete Best aos célebres estúdios em Abbey Road no dia 6 de junho de 1962. Aí, o quarteto começou por fazer uma sessão de teste. Engraçado que com o passar dos anos surgiram alguns detalhes sobre esse primeiro encontro entre a banda e o promotor, que realçam o pequeno choque cultural que houve inicialmente entre ambas as partes. Consta que depois da sessão George Martin perguntou ao grupo se estava a gostar e se estava a correr tudo bem ao qual George Harrison terá respondido: “Bem, a sua gravata está mal, para começar”.

Ainda assim, havia respeito entre as duas partes e sempre um espírito amigável entre eles. E a verdade é que George Martin gostou do que ouviu depois daquela sessão no estúdio de Abbey Road, conseguindo poucas semanas depois o primeiro contrato de gravação para os The Beatles. É por esta altura que Ringo Starr entra para a bateria em substituição de Pete Best.

A influência de George Martin nos The Beatles

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Entretanto, quando Love Me Do se tornou um sucesso comercial, George Martin sentiu-se pressionado para gravar um álbum inteiro com a banda e a partir desse momento assumiu oficialmente o cargo de produtor dos Beatles. Em 1963 aterra no mercado o disco de estreia da banda, com o título Please Please Me que tinha sido gravado, ao contrário do que muitos fãs pensam, num único dia.

A partir daqui as sessões passadas no estúdio começaram a ser mais longas. Inicialmente, as contribuições de Martin eram relativamente pequenas. Mas com Yesterday, de 1965, o produtor introduziu um elemento que definiu a banda: a inclusão de uma orquestra na canção.

“A minha abordagem [com as cordas de ‘Eleanor Rigby’] foi fortemente influenciada por Bernard Herrmann e a banda sonora que fez fez para o filme Psycho de Alfred Hitchcock”, disse o produtor numa entrevista em 2012. “Ele tinha uma forma de fazer com que os violinos parecessem ferozes. Aquilo inspirou-me para colocarmos os instrumentos de cordas a tocar nas notas curtas e de uma forma mais agressiva, dando à canção um bom empurrão. Quem ouvir as duas coisas, vai entender a relação entre elas.”

E, para surpresa de muitos fãs, George Martin também tocou em algumas das músicas dos The Beatles, como foi o caso de In My Life, apesar de nem sempre ter corrido  bem. “Não conseguia tocar o piano na velocidade certa, da forma como o tinha composto”, disse. “Não era tão bom pianista, mas se tivesse um pianista muito bom, conseguia fazer aquilo.”

Na época de Revolver, que chegou ao mercado em 1966, o produtor apresentou então à banda o conceito de criar novas músicas tocando as fitas ao contrário – uma abordagem que os Beatles decidiram usar em “Tomorrow Never Knows”.

“Apresentei a ideia ao John e ele ficou deslumbrado”, disse Martin à revista norte-americana Rolling Stone em 1976. “Quando vinham ter comigo traziam-me fitas de todos os tipos e tocávamos para dar umas gargalhadas.

   

A idade e distância cultural de George Martin em relação aos The Beatles acabou assim por beneficiar a música, entregando-lhe algo de mais psicadélico numa altura em que a utilização de drogas era um tema recorrente da sociedade. “As drogas certamente afetaram a música”, disse o produtor noutra entrevista.

Em meados de 1966, o grupo apresenta ao público o êxito Strawberry Fields Forever, tocando-o como se se pudesse encaixar num rock tradicional ou numa versão orquestrada luxuriante. Ao que parece, John Lennon não conseguia escolher entre as duas versões e perguntou se não seria possível combinar as duas.

George Martin, mesmo tendo dito que as duas versões estavam em tonalidades e andamentos diferentes, aceitou o desafio e fez o seu melhor para combiná-las, conseguindo assim alcançar um dos resultados mais apreciados na discografia dos Beatles. Uma das coisas mais notáveis em relação a George Martin é que produziu obras complexas, cheias de camadas, como Sgt. Pepper Lonely Hearts Club Band, usando apenas gravadores de quatro canais, demonstrando uma escassez de meios que em vez de diminuir ampliou bastante a genialidade dos Fab Four.

O desaparecimento de um vulto da Música

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Nas sessões de Let It Be, que chegou ao mercado em 1969, a banda sentiu que estava na hora de uma mudança profunda. O grupo britânico começou a ter uma posição anti-produção, acreditando que deviam ser mais naturais a fazer a sua música. As sessões tornaram-se então mais caras e eventualmente o quarteto começou a trabalhar em gravações com Phil Spector, outro produtor musical reputado.

“Fiquei chocado quando o Phil dobrou pesadamente as camadas de coros e colocou cordas, harpas e outras coisas extremamente exuberantes”, disse George Martin. “Pensei que os The Beatles iam terminar. Não estava feliz e não queria seguir em frente com eles.”

Contudo, para surpresa de George Martin, os The Beatles chamaram-no de volta para produzir nos estúdios de Abbey Road. “Vamos tentar voltar ao que éramos antigamente?”, terá perguntado a banda. George Martin concordou e começaram a assim a trabalhar num novo álbum. Porém, o disco que se seguiu foi seriamente marcado por algumas divergências entre John Lennon e Paul McCartney, que discordavam quanto ao caminho que o quarteto deveria seguir. Enquanto McCartney queria investir num álbum que fosse como uma sinfonia de música pop, Lennon queria uma coletânea de músicas mais tradicionais.

Como é por demais reconhecido, a banda terminou em 1970, terminando assim uma década de ouro. Durante o resto da década houve uma pressão imensa para que os The Beatles voltassem a tocar juntos, mas George Martin nunca foi um grande adepto da ideia. “Seria um erro terrível se se juntassem e voltassem ao estúdio”, comentou o produtor em 1976. “Os The Beatles existiram anos atrás; não existem hoje em dia. E se os quatro homens [que formavam a banda] se juntarem novamente, já não conseguiriam ser os The Beatles.”

Reconhecido de forma unânime como uma das personalidades mais importantes da carreira dos Fab Four, George Martin prestou um inestimável contributo não apenas ao grupo inglês, mas à música em geral, extravasando ao longo da sua carreira uma sensibilidade artística que culminou em algumas das canções mais emblemáticas de sempre. No total, o produtor musical gravou mais de 700 álbuns ao longo de uma carreira de cinco décadas, durante as quais também trabalhou com Dire Straits, Celine Dion, Sting e os The Rolling Stones, entre muitos outros.

Por todas estas razões, a sua morte em Março de 2016, deixou o Mundo da Música bastante mais pobre.

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