De tempos a tempos, vemos nas notícias episódios de palcos que desabam ou concertos que são interrompidos por situações de violência. Em recintos onde a música deve servir como elo agregador, põe-se em causa a imagem dos festivais de música enquanto espaços seguros. Em último caso, os acontecimentos acabam mesmo em acidentes graves que dão origem a disputas judiciais e amplas coberturas mediáticas.
Sendo um país de brandos costumes, Portugal continua a destacar-se no circuito europeu dos festivais pelo lado acolhedor, típico de quem faz questão de bem receber. Bom ambiente, segurança dentro do recinto e boas condições são alguns dos aspetos destacados por quem chega e que, aliás, explicam a grande afluência a este tipo de eventos.
Todavia, questões como esmagamentos durante concertos, agressões e violações continuam a fazer parte das preocupações dos festivaleiros – que são cada vez mais jovens – e dos respetivos pais.
E é, aliás, ao tempo dos pais dos atuais jovens festivaleiros que remontam alguns dos acidentes mais recordados em festivais. Do passado mais distante a um passado mais recente, falamos-lhe, neste post, de alguns dos casos mais trágicos da história dos festivais de música.
O Altamont de 1969, realizado na Califórnia, é considerado como um dos episódios que marcaram o fim do sonho hippie da forma mais trágica possível. O evento era de entrada gratuita e culminou com a morte quatro pessoas: duas foram atropeladas, a terceira morreu afogada no canal e a última foi esfaqueada por um elemento da segurança por tentar subir ao palco com uma pistola, na altura em que atuavam os Rolling Stones. A segurança do festival esteve a cargo dos Hell’s Angels, um grupo motard associado a episódios de violência, tráfico de droga e extorsão.
No dia 20 de agosto de 1998 decorria o festival Monsters of Rock. Conhecido por reunir grandes nomes do hard rock e do heavy metal, o festival contou com 107 mil espetadores nessa edição. Entre as bandas a atuar encontravam-se os Guns N’ Roses, que presenciaram a morte de duas pessoas, esmagadas pela multidão durante o concerto. Perante os problemas entre público, Axl Rose pediu mesmo que as pessoas parassem e tivessem cuidado. Mesmo assim, a banda não interrompeu o espetáculo e continuou a tocar. A decisão valeu-lhes fortes críticas.
Em 1999, procurou-se recuperar o espírito e o ambiente do Woodstock original num evento com o mesmo nome que se realizou no estado norte-americano de Nova Iorque. O objetivo era trazer de volta a paz e amor, mas os resultados não podiam ter sido piores. Num evento que contava com nomes como os Rage Against the Machine, Red Hot Chili Peppers e Limp Bizkit, destacaram-se várias situações de violência, agravadas pelo descontentamento face ao preço da alimentação e a falta de condições de higiene. Os confrontos obrigaram à intervenção das autoridades. Quatro mulheres dizem ter sido violadas, sendo que uma das violações terá ocorrido no moshpit durante o concerto dos Limp Bizkit.
No ano de 2000, os Pearl Jam foram cabeças de cartaz do festival Roskilde, na Dinamarca. O evento até então era considerado como um dos mais seguros da Europa, mas nessa edição ficou marcado pela morte de nove fãs, que acabaram por falecer mesmo à frente da banda. A falta de espaço e a agitação da plateia fez com que houvesse um esmagamento. Várias pessoas acabaram por sufocar e outras foram arremessadas por empurrões. Em memória dos fãs que morreram, Eddie Vedder escreveu a música Love Boat Captain (editada no álbum Riot Act), onde fala de “nove amigos perdidos que nunca conheceremos”.
Estávamos em 2010 quando 21 pessoas morreram e 500 ficaram feridas no festival de música eletrónica, Love Parade. Pela primeira vez desde a sua fundação, o evento foi realizado numa área fechada, sendo que o único acesso ao recinto era através de um túnel estreito, demasiado apertado para a quantidade de espetadores. O resultado foi um esmagamento coletivo que levou à morte de pessoas de sete nacionalidades diferentes. A edição foi a última do festival que acabou por ser cancelado.
Jessica Michalik, uma jovem australiana de 16 anos, acabou por não sobreviver ao moshpit que aconteceu durante o concerto dos Limp Bizkit, na edição de 2010 do Big Day Out. Depois de ser esmagada, a adolescente foi transportada para o hospital onde acabou por falecer 5 horas depois. O caso seguiu para tribunal e a organização foi mesmo condenada por não garantir as condições de segurança no recinto. Queixas foram também apresentadas contra a banda, que mais tarde realizou um concerto de homenagem a Jessica Michalik.