Dançar não implica apenas ouvir uma música e mexer o corpo. Há todo um processo a acontecer no nosso cérebro que determina a nossa capacidade para dançar. Mesmo que algumas pessoas não saibam, a habilidade para dança foi algo que o ser humano desenvolveu ao longo dos séculos. Reconhecemos batidas, ritmos e músicas mas nem sempre foi assim. Somos os únicos mamíferos, e provavelmente a única espécie, capaz de reconhecer música e de interagir com ela.
Está tudo relacionado com sincronização. Quando chegamos a um bar e a uma discoteca, deixamos que o nosso corpo reaja de acordo com a música que está a tocar. De longe a prática coletiva mais sincronizada, a dança exige um tipo de coordenação interpessoal no espaço e tempo quase inexistente em outros contextos sociais.
Embora a dança seja uma forma fundamental de expressão humana, sempre recebeu relativamente pouca atenção por parte dos neurocientistas. Pelo menos até agora. Recentemente, alguns investigadores começaram a estudar o cérebro de dançarinos, tanto profissionais como amadores, e a chegar a algumas conclusões muito interessantes.
Uma dessas investigações, que foi publicada recentemente no Philosophical Transactions: Biological Sciences, esclarece algo muito importante: algumas pessoas não conseguem dançar… porque têm mesmo um problema.
Se até hoje era o alvo das piadas dos seus amigos sempre que saía à noite, fique agora a saber que se calhar existe mesmo um motivo para que não consiga dançar quando chega a uma discoteca. E não estamos a dizer que a culpa desse problema está na timidez ou falta de destreza.
Não, o motivo pode ser outro: beat deafness. Este é o nome atribuído a uma doença descoberta há poucos anos. O termo, traduzido para português, significa algo como “surdez de batidas”.
É quase como o equivalente a um daltonismo ou surdez mas, desta vez, aplicada à dança. O problema neuronal foi descoberto por um grupo de cientistas que realizaram um teste a algumas pessoas com este problema e que tinham, de facto, dificuldade em identificar sons e a acompanhar as batidas. Isso explicava porque dançavam tão mal.
“Notamos que os erros aconteciam porque as frequências naturais não operavam em conjunto com as oscilações pulsantes do organismo”, contou Caroline Palmer, autora do estudo, em declarações à imprensa.
Antes de ir a correr ter com os seus amigos para lhes dizer que já sabe porque razão dança tão mal, Carolina Palmer esclarece que esta é uma doença rara. “Muitas pessoas procuram-nos para saber se sofrem deste problema; a grande maioria dá negativo”, revela.