Celine Dion, a minha namorada e os ciúmes da foto
Desperto para escrever sobre Celine Dion por causa da reincidência do Abrunhosa em apontar a voz da cantora mais famosa do Canadá como sendo o exemplo do “limpinho e intragável” e pus-me a recordar uma noite do início do ano de 1996, em Bruxelas, onde assisti a um concerto dela.
“Isto é que é um animal de palco”, dizia-me João Afonso do “special marketing” da Sony Music Portugal entre palmadinhas nas costas e efusivos aplausos. Confesso que Celine Dion não é a minha praia – como dizem os brasileiros – mas admito a surpreendente admiração pela paixão com que a vi entregar-se ao que cantava e pelas dezenas e dezenas de embrulhos – o que teriam lá dentro? – que naquela noite o público remeteu para o palco.
Quando, no final do espetáculo, me levaram até aos seus camarins, Celine apareceu com umas calças de ganga coladas à magreza da pele, demasiado agitada e distribuindo sorrisos carregados de adrenalina. Lembro-me de ter exclamado: “Que speed! Quem diria!?”. “Como é possível que a senhora saia do palco ainda mais enérgica do que entrou?”, perguntava o João como que para si mesmo, aproximando-se da artista para a trazer até mim.
Assim que se chega perto abraça-me, tacteante, subitamente os flashes a dispararem na nossa direção, mas como, se ninguém me conhece, todo eu perplexo com o instantâneo do aparato. Que força, digo-lhe, ela que enfatiza, toda mel: “É a força que provém do amor, base de tudo. Cresci num ambiente de afeição e atenção, encontrei o amor dentro de mim. Desde pequena que aprendi a trocar, a dar e a receber, partilhando emoções e sentimentos”.
Falava comigo como se me conhecesse de longa data, contando-me a sua vida como se ela também me pertencesse, eu imaginando-a com quatro anos a cantar no bar do restaurante dos seus pais nos arredores de Montreal. Alguém me desperta com uma palmadinha nas costas: “Pronto, já chega”.
No dia seguinte entregaram-me um envelope, lá dentro uma fotografia, eu com a Celine Dion abraçada a mim, rostos colados, os lábios como se beijassem a câmara, sorrisos maiores que o pensamento. Quando, dias depois, mostrei a foto à minha namorada de então, apanhei com uma birra e bárbara crise de ciúmes que durou mais que uma semana. Tudo porque, segundo ela, eu e a Dion tínhamos ido para a cama. E nem me adiantou jurar que não, que aquela foto tinha sido tirada um minuto depois de nos termos conhecido.
Resta compratilhar a linda foto…