Whitney Houston e um “I Will Always Love You” de mau prenúncio

Certo Junho de 1998 fui convidado para ir à vila alemã de Halle assistir a um concerto de Whitney Houston, ainda estrela brilhante com diamantes ao pescoço. Assim que deixou o elevador que parou à entrada de uma esplendorosa escadaria e entrou em cena a cantar “I’m Every Woman” fiquei estupefacto. Pesem as tentativas para manter as aparências, Whitney estava nervosa, rouca e visivelmente drogada.

Mesmo que elegante e sensual, assombrou vê-la parca de movimentos, justificando o embaraço causado com um desajeitado “sabem, as coisas mudam quando se tem um filho”. Atarantada, deixou o palco demasiado cedo – entregando o espectáculo nas mãos da banda e de uma menina do coro num “Diana Ross Medley” – e demorou uma eternidade a voltar. Ainda mais ganzada, debitando um desmesuradamente aplaudido “I Will Always Love You”. A arrebatada condescendência deveu-se aos virtuosos agudos de voz fragilizada, às pausas provocadas para respirar, à pose extinguida.

Quando, dias depois, estavam 40 mil no Estádio de Alvalade a ouvir aquela que na época era uma das mais populares artistas, premiada com vários Grammy’s Awards, Emmy’s e MTV’s de cinema e música, superando recordes, singles e discos mais vendidos de todos os tempos, dizer logo de entrada “Boa noite Madrid!!!”, abanei a cabeça e voltei ao registo que dias antes, na Alemanha, não me saía da cabeça: “a droga vai destruir esta mulher”.

O passo em falso tinha sido dado em 1992, ano em que se casou com o conflituoso produtor Bobby Brown. Foi a partir daí que na vida e carreira de Whitney Houston tudo se começou a desmoronar. Reconhecendo que consumia drogas de todos os tipos e que tinha tentado várias recuperações em centros de reabilitação, divorciou-se em 2006 marcada por demasiadas brigas e agressões físicas. A linda, rica, famosa e talentosa que parecia que tinha tudo para ser feliz, tinha caído no abismo.

O pesadelo foi crescendo com o uso de entorpecentes cada vez mais fortes e o património destruído, o declínio visto em todo o Mundo quando a cunhada tirou fotos que mostravam seringas e restos de drogas espalhadas numa mansão com aposentos dignos de bairro da lata. Depois de mais uns tantos desmaios e acidentes de viação chegou a overdose e a sensação de que, afinal, a esperança nem sempre é a última a morrer.

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