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Sentimental Demais: as canções de Evaldo Gouvêia e Jair Amorim

Sentimental Demais: as canções de Evaldo Gouvêia e Jair Amorim

by Gabriel Crespo

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Este texto é a homenagem do Blog Mundo de Músicas a Evaldo Gouvêia, Jair Amorim, Anísio Silva, Altemar Dutra e a todos os cantores da música romântica do Brasil e da América Latina. É também uma homenagem pessoal que dedico à minha bisavó Maria da Penha Crespo (uma das pessoas mais importantes na minha vida). Que os corações que ficaram sentimentais demais aproveitem esta seleção.

“Sentimental eu sou

Eu sou demais

Eu sei que sou assim

Porque assim ela me faz …”

Quando o rock ainda dava os seus primeiros sinais de que iria conquistar a juventude das américas, lá no finalzinho dos anos 1950, quando a bossa nova estava a mostrar seus primeiros sons e indicando uma estética musical totalmente diversa dos cantores do Rádio, o jornalista e já compositor Jair Amorim estreou sua parceria com o jovem músico Evaldo Gouvêia, iniciando uma das mais prolíferas parcerias da música popular Brasileira.

“As músicas que eu

Vivo a cantar

Têm o sabor igual

Por isso é que se diz

Como ele é sentimental…”

Na época, o ritmo do momento era o bolero, aqui no Brasil havia uma assimilação do bolero na forma dos nossos sambas-canções. A maioria das suas obras pode ser executada tanto como samba ou como bolero, eis o traço da parceria Evaldo Gouvêia e Jair Amorim. Os artistas conquistaram várias colocações nas paradas de sucesso e ainda conquistaram uma vitória com um samba-enredo da Portela (tradicional escola de samba carioca).

Seus nomes aparecem entre os que obtém maior número de regravações. Pode-se afirmar sem sombra de dúvidas que é uma das duplas de maior sucesso no Brasil dos anos 60-70 e que suas canções se tornaram clássicos do romantismo brasileiro.

“Romântico é sonhar

E eu sonho assim

Cantando estas canções

Para quem ama igual a mim…”

Para lembrar esta riquíssima obra musical, selecionamos abaixo alguns dos maiores sucessos da lavra Evaldo Gouvêia & Jair Amorim.

 

ALGUÉM ME DISSE

O primeiro grande sucesso da dupla foi o bolero “Alguém me disse”, gravado em 1960 por Anísio Silva, um importante nome da música romântica nacional. O cantor foi aclamado como “O Rei do Bolero”, sendo um destaque no gênero pela sua forma suave e clara de interpretar o ritmo, o que era um diferencial entre tantas artistas que apostavam na grandiloquência e exagero vocal. Anísio Silva gravou a dupla inúmeras vezes. “Alguém me disse” foi um sucesso tamanho que, no mesmo ano de seu lançamento, foi regravada por Cauby Peixoto e Maysa Matarazzo. Uma gravação curiosa, moderna e surpreendente foi feita pela cantora pop Ana Carolina em 1999 e 2010 quando a lançou em registro ao vivo, relembrando este clássico para as novas gerações.

 

 

 

BRIGAS

Esta canção foi um dos maiores sucessos de um dos maiores cantores românticos do BrasilAltemar Dutra. O cantor era o brasileiro recordista em vendas no mercado fonográfico da América Latina e por isso ficou conhecido mundialmente como “el trovador de las américas”. “Brigas” é um bolero ímpar por um encontro sagrado entre a genialidade de quem escreveu essa canção e o sentimento esbanjado na interpretação de Altemar Dutra. Nas suas apresentações ao vivo e também em uma regravação de seu clássico, o cantor dizia: “A música com a qual eu gostaria de ser lembrado daqui a 30, 60 ou 100 anos é “Brigas””. A música foi muito bem regravada pela dupla sertaneja Bruno & Marrone. Segue a versão eterna do Altemar e um encontro da cantora Hebe Camargo com Chitãozinho e Xororó.

 

O TROVADOR

Na década do minimalismo da bossa-nova, das guitarras dos Beatles e das ondas do iê-iê-iê (jovem guarda), Altemar Dutra soltou a voz e lançou em primeira mão as composições da dupla que era a mais frequente em seus long-plays. Pode-se dizer que a maior parte dos sucessos de Evaldo & Jair seja devido às interpretações eloquentes do cantor. Mais um sucesso da dupla é a música “O Trovador”, onde se encontra a raiz do título que Altemar Dutra recebeu em todas as américas. Esta é uma marcha-rancho, estilo que era bastante comum naquela época, frequente nos finais das festas e bailes de carnaval.

A música é carioca do início ao fim e relembra os tempos áureos dos seresteiros dos anos da primeira metade do século passado. Eles compuseram em outros estilos e ritmos, sendo regravados por quase todos os cantores de sucesso dos anos 60.

 

GAROTA MODERNA

Wilson Simonal em 1965 lançou “Garota Moderna”, uma cheia de bossa (estilo que estava vivendo seu auge no Brasil e no exterior), que deu nome ao seu disco daquele ano. Como tudo o que Simonal gravava, a música também virou um sucesso naquela época. “Lá vai ela e pensa que é mulher” caiu na graça e na boca do povo – o que é um dos traços fortes da dupla – fazer canções com versos simples mas que consigam envolver o ouvinte através do sentimento e de cada representação ali presente (“cigarrinho aceso em sua mão”; “camisa lisa sob a calça lee”; “toca moderninho um violão”, hábitos modernos para uma garota da época).

 

O MUNDO MELHOR DE PIXINGUINHA

Em 1974, Silvinho da Portela, Candeia e Clara Nunes puxaram “O mundo melhor de Pixinguinha” (Pizindin) para a tradicional escola carioca Portela desfilar na avenida. O samba-enredo foi assinado pela dupla de sucesso e trazia versos “carinhosos” para homenagear Alfredo da Rocha Vianna Filho, o famoso compositor e instrumentista Pixinguinha, falecido no ano anterior.

   

“Lá vem Portela

Com Pixinguinha em seu altar

E altar de escola é o samba que a gente faz

E na rua vem cantar”

A dupla mais romântica daqueles anos homenageou o compositor de inúmeros sucessos clássicos da música popular, canções que atravessaram mais de cinco gerações. Seu maior sucesso “Carinhoso” completou 100 anos em 2017. A escola conquistou o segundo lugar no campeonato de 1974. O samba foi um dos mais queridos daquele ano e também dá prova da versatilidade da dupla, que foi do bolero ao samba-enredo.

 

TANGO PRA TERESA

Outra prova desta genialidade musical constatamos em “Tango pra Teresa”, sucesso do repertório da cantora Angela Maria. O tango conta a história de um homem que relembra seu antigo amor (Teresa) e sente a nostalgia de sua mocidade já distante ao ouvir tocar um disco de Carlos Gardel que vinha do apartamento ao lado. Além da brilhante interpretação original de Angela Maria, há uma brilhante interpretação feita por Ney Matogrosso. Vale a pena conferir para ver que é um tango brasileiríssimo, feito pela dupla mais sentimental do Brasil.

 

O CONDE

Foi a voz potente e lírica de Jair Amorim que deu vida a “O Conde”, lançada em 1969, um de seus grandes sucessos. A música é de tema carnavalesco e fala da história de um homem que vai sair na avenida (desfilar) fantasiado de conde. O eu-lírico narra as emoções de sair na Portela e “ver Vilma dançar com o seu estandarte na mão”. É uma das músicas de carnaval de maior sucesso da dupla que, na companhia de “Bloco da Solidão” (lançada por Altemar Dutra), se destacam no conjunto da obra de Evaldo Gouvêia e Jair Amorim.

 

E A VIDA CONTINUA

“Eu encontrei ontem na rua o meu amor…” – este simpático bolero da dupla foi gravado originalmente pela cantora Nora Ney. Sua interpretação mais famosa, contudo, veio através de Agnaldo Rayol, cantor que sempre se destacou pelo seu vozeirão que se encaixa perfeitamente ao seu estilo elegante se ser. O bolero foi um dos primeiros sucessos da carreira de Rayol, e sempre é recordada pelo artista em seus mais de cinquenta anos de carreira. A canção ganhou também uma marcante interpretação da cantora Dalva de Oliveira.

 

NINGUÉM CHORA POR MIM

“Mas se um dia eu tiver que chorar, ninguém chora por mim…” – cantou Moacyr Franco no auge do seu sucesso em 1962. “Ninguém chora por mim” é uma das letras com maior carga dramática já composta pela dupla. É uma música triste com uma interpretação que faz jus à letra e melodia, mas é daquelas composições que não poderiam ficar de fora de uma seleção sobre Jair e Evaldo.

 

QUE QUERES TU DE MIM

Em 2015, Evaldo Gouvêia lançou seu DVD ao vivo, gravado na sua terra natal (Ceará). O álbum conta com as lembranças e sucessos do compositor e cantor hoje com 89 anos de idade e em plena atividade. Seu companheiro de composições Jair Amorim, que na época era bem mais velho que Evaldo, faleceu em 1993, aos 78 anos. Destacamos aqui a gravação ao vivo de “Que Queres Tu de Mim” (lançada originalmente por Altemar Dutra em 1963).

 

SOMOS IGUAIS

“Acabei de saber que você riu de mim…”. Canção de sucesso na voz de Altemar Dutra, é uma das músicas de Jair e Evaldo que ganhou mais releituras. Segue uma versão na voz do trovador das américas com a cantora Fafá de Belém, que fez parte de um projeto em que vários artistas foram ao estúdio gravar duetos com as gravações inéditas que o cantor deixou ao falecer. Um samba-bolero de ótima qualidade!

 

Em 1967, o cantor Cauby Peixoto gravou um álbum chamado “Porque só penso em ti”, com as 12 faixas assinadas pela dupla Evaldo Gouvêia e Jair Amorim. À época, Evaldo descreveu: “Para o autor musical, o elepê exclusivo é a consagração ambicionada. Quando o cantor é um artista como Cauby Peixoto, de extraordinária categoria, então se pode dizer que não há mais nada a desejar.” Jair Amorim (que foi autor de “Conceição”, maior sucesso de Cauby) acrescentou: “Um disco que me honra e comove!”. Segue para apreciação um pout-porri com músicas da dupla que Cauby gravou em um disco de 1992:

 

A dupla foi regravada também por Jamelão, Nelson Gonçalves, Agnaldo Timóteo, Gal Costa, Maria Bethânia, Emílio Santiago, Alcione, Elymar Santos, Nelson Ned, Simone e o astro internacional Julio Iglesias. No ano passado, o cantor Léo Russo lançou seu trabalho “Canto do Léo”, um dos cantores da nova geração que se destaca pela semelhança com os boêmios de outrora. Neste trabalho há a canção “Pôster”, uma nova parceria de Evaldo Gouvêia, agora com o compositor Paulo César Pinheiro. O cantor Altemar Dutra Jr., filho e herdeiro musical do trovador das américas, gravou em seu cd em homenagem ao pai “Sentimental nós somos”, uma nova música de Evaldo chamada “Velha Foto”. Ambos os trabalhos seguem a linha sambas-canção e boleros, ao estilo Evaldo & Jair. Vale a pena conhece-los!

 

SENTIMENTAL DEMAIS

“E quem achar alguém

Como eu achei

Verá que é natural

Ficar como eu fiquei

Cada vez mais

Sentimental.”

Para finalizar esta publicação, que tem como único objetivo relembrar as canções e as emoções da dupla Evaldo & Jair, além de recordar as grandes vozes que transbordaram estas preciosidades de sentimento e drama, relembramos aqui “Sentimental Demais”, o “retrato falado” de Altemar Dutra, que no vídeo que se segue interpreta a canção ao vivo em um especial seu no início da década de 80 na emissora SBT, poucos anos antes de sua morte.

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