Rui Veloso raramente atende o telemóvel mas quase sempre retorna a chamada. Ligou, disse-me que era fã destas minhas crónicas, que apreciava “a forma, direta e frontal,” como me referia aos artistas, “a coragem para não esconder a verdade”. Espero, retorqui, que quando escrever sobre ti mantenhas essa opinião. “Então e porque não manteria?”
Lembrei-lhe que, faz agora uns 15 anos, aquando do 1º Festival de Blues de Gaia, escrevi que o André Indiana era “vaidoso e pedante” e que, no dia seguinte, fui abordado pelo jovem guitarrista quase em pranto e que ele, solidário, apertou-me a mão enviesada e exclamou: “não devias ter escrito aquilo; coitado do rapaz; isso não se faz”.
O , no seu jeito igualmente franco, clama do outro lado do telefone: “É pá, tu estavas certo. Esse gajo é mesmo arrogante”. Dias depois fui encontrá-lo nuns estúdios que tem em Belas, tocou-me uns acordes como só ele sabe, vi-o revoltado com “este país da treta, de gente hipócrita, medrosa e cobarde que nem para pedir o livro de reclamações num restaurante tem coragem porque isso pode implicar chatices”.
A mancar, por causa de uma recente operação ao menisco, levou-me até ao jardim que beira a sua residência e, ao falarmos da forma como as rádios tratam os nossos artistas, ouvi-o afirmar, indignado: “É uma vergonha termos andado a mendigar uma lei para passar 25% de música portuguesa e mesmo assim sofrendo resistências. Por causa dessas coisas é que eu preferia ser espanhol ou inglês”.
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