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Oasis: O que importa são as músicas que fazemos

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Oasis: O que importa são as músicas que fazemos

by José Manuel Simões

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A primeira página do Evening News de Edimburgo, Escócia, deslindava: “vinte fãs sucumbiram às emoções e tiveram colapsos cardíacos durante o concerto dos Oasis”. À minha frente uma adolescente desmaiou, redonda no chão. Bastou os irmãos Gallagher entrarem em palco.

Fiquei boquiaberto com o fenómeno de histeria colectiva na plateia, os delicados socorristas atarefados, as sirenes das ambulâncias, mais meninas a arrepelarem os cabelos ruivos. Outro desmaio. A que se devia o fenómeno?

Noel, visivelmente drogado, desprezo pela dezena de jornalistas seleccionados para o paparicar, dava a resposta numa tarde fria de Janeiro escocês de 1996: “É que nós somos a melhor, a mais importante e a mais moderna banda do planeta”. Decidi não me conter e indaguei: “nem mesmo os Beatles, que os Oasis plagiam com algum descaramento, considera melhores?”

Noel afigurou-se ofendido e respondeu em tom azedo: “Os jornalistas têm a mania de nos comparar. Precisam de construir histórias à volta dos músicos que não interessam a ninguém. É por isso que é um aborrecimento dar entrevistas, responder sempre às mesmas perguntas, abordar situações por demais exploradas. Mas faz parte desta porcaria toda que envolve a única coisa que aqui interessa: a música”.

O ambiente era tenso. Tinha o coração a bater, não gosto de entrar em confronto nem de dar parte de fraco. Inquiro-o: “acha a imprensa culpada dos excessos, dos casamentos “high profile”, das declarações ofensivas, das detenções, das pancadarias em que se envolvem, das drogas que tomam “como quem toma chá”.

Alguns jornalistas riram para desanuviar o clima.

Num certo Maio de 2000 o mesmo Noel Gallagher ligou-me com o objectivo de promover um concerto dos Oasis em Lisboa. Às tantas questionei algo sobre a sua noite anterior e recebi uma resposta curta e grossa: “Dei um concerto e depois fui-me embebedar, como faço todas as noites quando saio do palco”.

   

Insisto no tema: “Promiscuidades – como a que canta em “She’s Electric”, que fala de um rapaz que tem relações sexuais com a mãe e a irmã da namorada – bebidas e drogas são fundamentais na sua vida?”.

Noel enfatiza com uma risada: “nunca prescindo da cocaína antes de entrar em palco”.

“Não teme que o seu exemplo influencie jovens fãs que o idolatram?”

“Estou-me a cagar para os jovens e eles estão a cagar-se para mim. O que importa são as músicas que fazemos”.

Presumo que viva com o fantasma que um dia vai perder a inspiração de vez.

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