Lorde: a cantora que sonha com reis e castelos

Às vezes ainda é estranho pensar que Lorde, com o seu batôn carregado e tez tão pálida, tinha apenas 16 anos quando se tornou conhecida com Royals, o single que lançou toda a sua carreira para o sucesso. Basta olharmos para uma fotografia de Lorde para acharmos que é mais velha do que artistas da sua geração, como Justin Bieber e Miley Cyrus, mas a verdade é que a jovem neozelandesa é mais nova, mas nem por isso mais imatura.

Com um nome que honra o mundo aristocrático, a jovem natural da Nova Zelândia põe de lado os exageros e as convenções impostas pelos artistas modernos e, como afirmou em algumas entrevistas, dedica-se essencialmente à voz. Influenciada por Grimes, Lana Del Rey e Fleetwood Mac, a jovem Lorde já garantiu o seu lugar no mundo da música.

Tudo começou com um concurso na escola. Ella Yelich-O’Connor, que na altura tinha 12 anos, cantou uma música de Duffy perante uma ampla audiência. Felizmente, alguém gravou a atuação e o vídeo acabou nas mãos de um agente que conseguiu assiná-la com a Universal Music. Mesmo assim, a editora não trabalhou muito com Lorde até aos 14 anos.

A artista não tinha, no entanto, baixado os braços. Nesses anos, passou grande parte do seu tempo a compor músicas como Royals, Tennis Court e Team e a gravar-se a si mesma com uma guitarra. Em 2013, lança então Pure Heroine, atingindo o top na Nova Zelândia e numa série de outros países.

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Pure Heroine: Lorde mostra a realeza do século XXI

Antes de falarmos do álbum, é importante que saiba uma coisa sobre Lorde. Desde cedo que a pequena Ella Yelich-O’Connor manteve um fascínio pela realeza: sim, estou a falar de reis e rainhas, personagens históricas como Henrique VIII, o czar Nicolau II e Maria Antonieta. Ao sonhar com todo esse mundo, a artista decidiu adotar o nome artístico Lorde, uma junção do título aristocrático Lord com a letra E, para dar um toque mais feminino e homenagear o seu próprio nome.

Mas esta curiosidade por personagens históricas motivou muito mais no seu trabalho. A capa do álbum Pure Heroine, por exemplo, não expõe a artista. A ideia era criar algo simples, como se o álbum tivesse sido lançado há 50 anos ou mais, admitiu a artista.

Porém, a grande homenagem que faz ao mundo da realeza acontece no single Royals, que coroou Lorde como uma das princesas do rock alternativo. Ao longo de 3 minutos, a artista denuncia a opulência de uma realeza que vive num mundo de manchas de sangue, vestidos de baile, a destruir quartos de hotel.

Mas Lorde não pertence a este mundo e não tem vergonha em assumi-lo. Na verdade, Royals acaba por se assumir como um hino à juventude e à própria liberdade, assumindo-se como anti-Royals.

O hit foi sucedido pelo single Tennis Court, onde a artista se assume com um registo ligeiramente diferente mas assim com a sua voz característica. Embora esta possa ser uma nova referência ao momento em que o Congresso Francês se fechou num corte de ténis para discutir a nova Constituição. Com um pulso eletrónico no fundo, que estabelece o ritmo da música, Lorde assume a sua audácia e convida: Let’s go down to the Tennis Court and talk it up like yeah.

Team foi descrito pela própria Lorde como a sua visão daquilo que é a música hoje. Vivemos em cidades que nunca verás na televisão é o hino da artista pop moderna, como a própria Lorde, nascida e criada em Nova Zelândia, um espaço que não tem tanto glamour como Los Angeles mas que não deixa de ser um bom lar. De novo com o ritmo eletrónico a que Lorde nos habituou, Team fala-nos de sonhos e de como ao crescer é possível cumprir sonhos impossíveis.

Quem não está familiarizado com o trabalho da artista, não conhece certamente Ribs e White Teeth Teens. Embora o álbum contenha 10 faixas – distintas entre si mas com o estilo vocal de Lorde a uni-los – acredito que estas duas últimas representam bem aquilo que Lorde nos quer fazer chegar com a sua voz e o que podemos esperar dela no futuro.

Com um início muito electro, começamos por ouvir ecos e só por volta dos 50 segundos é que Lorde assume o controlo junto ao microfone para nos cantar num registo que considero mais intimista. Lorde parece-nos confessar o seu medo de crescer. Os versos I’ve never felt so alone/Feel so scary getting old resumem bem esta mensagem. Ainda assim, não é por ser mais intimista e melancólica que a música perde o ritmo. É sem dúvida uma das minhas preferidas.

E, claro, White Teeth Teens. Nesta música, há de novo uma denúncia ao mundo, desta vez aos jovens de dentes brancos, o tipo de rapaz e rapariga que pode ser considerado perfeito. Ao longo da música, percebemos que Lorde procura a ajuda destes jovens para impressionar um rapaz mas que tal só acontecerá se os impressionar primeiro, mostrando ser a rapariga perfeita e estereotipada, de dentes brancos.

Pure Heroine atingiu o n.º1 nas tabelas da Nova Zelândia e dos Estados Unidos e esteve nomeada para 4 prémios Grammy. Por essa altura, Lorde ainda não tinha sequer 18 anos e era já considerada uma das melhores artistas da sua geração.

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