Haarm no Hard Club: Pop melódica de atmosferas vagas e coloridas

Foi uma noite, inesperadamente, excelente. Boa música, excelente ambiente, muita conversa e no fim… começou a festa! Bem, foi um autêntico bailarico!

Houve referências a David Attenborough, ao polvo (único culpado pela meia-hora de atraso no início do concerto), a um grande amigo que, muito jovem, partiu para o além, e a quem a banda dedicou um tema, e ainda aos “super-heróis góticos” que os Haarm conheceram nas imediações do Hard Club durante a tarde e que deixou Chris McIntosh deslumbrado.

Em estreia absoluta em território nacional, o guitarrista/vocalista da banda de Liverpool mostrou-se deleitado com a cidade do Porto e completamente fascinado com os “super-heróis góticos”.

“Eram um grupo de jovens, todos vestidos de negro e com uma grande capa negra à super-herói! Eram, super-heróis góticos!”, brincou Chris, em conversa com o público.

E, se a conversa foi boa e divertida, bastante divertida mesmo, a música não ficou nada atrás.

Durante cerca de uma hora, os ingleses oriundos da “terra dos Rolling Stones”, como gracejou Chris quando apresentou a banda, brindaram o público com a sua pop melódica, de ritmo intenso e atmosferas vagas, coloridas e de contorno electrónico.

Com Chris McIntosh na guitarra, Jen Davies nos teclados e Olly Gorman na bateria, os Haarm conquistam pela beleza das canções e pelos ambientes atmosféricos que conseguem criar, em que a dupla vocalização (Chris e Jen) empresta algo de muito substancial à sonoridade dos britânicos.

«Valentine», que abriu o concerto, conquistou logo a plateia, até porque Chris já havia quebrado o gelo culpando o polvo que lhes serviu de jantar pelo atraso. Na plateia, Jorge especulou mesmo com Joana que, “seguramente, foi polvo à lagareiro!”.

O casal voltou a um concerto Suspeito, com a marca de Mr. November, sem conhecer grande coisa dos Haarm. Sabia que lançaram um EP, em 2018, e um conjunto de singles desde 2016, ouviu umas coisas, mas estava expectante. Aliás, Jorge e Joana sentiram que não eram os únicos a serem agradavelmente surpreendidos.

Picando no EP e nos diversos singles, o trio serviu canções como «How long has this been going on?», «Love in a different way», «Box of bones» ou «Can we keep the light on» à medida que a cumplicidade entre palco e plateia crescia, sentindo-se a boa-disposição generalizada, culpa da música e da conversa de Chris entre músicas!

Quando se ouviu o tema que dá nome ao EP, «Better Friend» a Sala 2 do Hard Club já era um clube de amigos alargado. Aliás, Jorge e Joana conheceram mesmo um casal de alemães, Tilo e Sandra, que em véspera de regressarem ao país natal, não perderam a oportunidade de viver uma noite Suspeita ao som dos Haarm, na cidade Invicta.

A música do trio de Liverpool faz lembrar muita outra coisa, mas simultaneamente não faz lembrar mais nada a não ser ela própria. É neste equilíbrio entre o pop, a electrónico, o rock e a atmosfera dançante que os Haarm se movimentam, produzindo um som límpido, intenso e de voz(es) harmoniosa(s). «Endangered Species» é um belo exemplo disto mesmo.

Na recta final, o concerto voltou a ganhar força, primeiro, com «Foxglove» e depois com a «party song» que fechou o concerto «In the wild».

Era a deixa para o que se seguiria, até porque, apesar do atraso, a noite ainda eram uma jovem (“se é virgem ou não depende da nossa fantasia”, «Vídeo Maria», GNR). Pois bem, primeiro apenas com Chris e Olly, mas depois também com a Jen, em palco atrás dos pratos, a estreia nacional dos Haarm foi completada com um Dj Set de… luxo.

Para não maçar muito, basta dizer que começou com The Smiths, seguiu com Joy Division, passou por Talking Heads, The Clash, David Bowie e tantos, tantos outros nomes grandes da música que para os resistentes daquele domingo 31 de Março consideram o zénite.

Anos 80 e 90 do século passado em força a servirem de banda-sonora ao flashback que a esmagadora maioria do público ainda presente no Hard Club experienciou. Muitos acabaram a ouvir e a dançar a(s) música(s) da(s) sua(s) vida(s).

Extraordinário final de noite, com a plateia a transformar-se numa imensa e animada pista de dança, ao mesmo tempo que permitia uma viagem ao passado.

Já de saída, talvez inspirado pela quietude do rio Douro, que seguia o seu caminho rumo ao mar ali em fundo, Jorge disse a Joana: “Estas coisas não podem é ser feitas a um domingo. Desconfio que se fosse sábado, para além de muito mais gente, era até de manhã!”.

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