Em meados de 2004 alguém me ligou a convidar-me para participar num “jantar ao vivo” no Mercado da Ribeira em Lisboa. Como? “Uma refeição que é uma peça de teatro onde uma dezena de pessoas de várias áreas da nossa cultura vai representar-se a si mesmo, interagindo uns com os outros e com o público que está a assistir”.
Fiquei sem perceber muito bem a proposta mas por curiosidade e espírito de aventura lá fui. As apresentações foram rápidas e nunca soube o nome da maioria das pessoas que estavam na mesa, uns actores e outros tantos fadistas, o Belle Chase Hotel J.P Simões que conhecia de boas andanças e dois rapazes que me despertaram a curiosidade: Lil’John, ou melhor, João Barbosa, e um amigo de escola na Amadora, o DJ Riot.
Basicamente, o tal “jantar ao vivo” foi uma grande seca e ainda tive que apanhar com um actor arrogante a desatinar comigo por eu ter escrito a biografia do Júlio Iglésias. “Alguém que escreve sobre um parvalhão como esse fulano só pode ser o quê?”, falou o escanzelado vestido de preto e barba por fazer, raivoso e quase a escumar pela boca logo no início da sessão.
Não fosse o DJ Riot pegar no microfone para desviar a conversa e não sei como teria contornado a ofensa. Findo o jantar monopolizado pela performance dos actores, o então gordinho do Lil’John – único sensato que passou a refeição caladinho e a comer – chamou Riot, pegaram nos discos e dirigiram-se à mesa de som.
Foi um alívio aquela lufada de ar fresco, a imediata sensação que a habilidade daqueles dois para manipular os sons iria transformar-se num caso sério. É que aquele set revelava uma estranha novidade. Quando, dois anos depois, vi os dois darem vida a um projecto intitulado tinha a certeza que iam dar que falar para além do “jantar ao vivo”.