O nome incontornável da história do fado já nos deixou em 1999, há quase vinte anos, mas ainda hoje a sua música persiste dentro e fora de Portugal. Estamos a falar de Amália da Piedade Rodrigues, mais conhecida pelo seu primeiro e último nome ou simplesmente pelo mero Amália que quase se tornou um símbolo da cultura portuguesa.
Relembrada como a Rainha do Fado, levou a música da saudade a todo o mundo e, com ela, a identidade portuguesa. A artista apareceu várias vezes em programas de televisão internacionais onde cantava não apenas o fado, mas também êxitos contemporâneos e até mesmo músicas de diferentes nacionalidades.
Em 1999, quando foi anunciada a morte de Amália Rodrigues, o país parou durante alguns dias e todos os olhos se focaram em Portugal para prestar uma última homenagem à artista. Por essa altura, Amália Rodrigues tinha já vendido mais de 30 milhões de cópias em todo o mundo (um número que equivale ao triplo da população portuguesa) e contava com a edição de 170 álbuns em 30 países. O legado que deixou é vasto, de tal forma vasto que parece não ter fim. Além de discos, a fadista deixou também objectos pessoais que podem ser vistos hoje na sua casa transformada em museu.
Para quem pensava que a voz de Amália se ia silenciar após a sua morte, eis que surge uma novidade alguns meses mais tarde: um novo álbum onde se incluem temas inéditos e repletos de história: Amália Rodrigues 1962.
Se o LP gravado em 1962 – considerado como sendo o disco que mudou a história do Fado e da Música Popular Portuguesa – seria uma edição do 40º Aniversário do , acabaria por se tornar histórico dadas as descobertas feitas pela editora. A ideia original partiu da edição em conjunto com For Your Delight do LP que nunca chegou a ser editado em CD e, onde se inclui o trecho Dura Memória, sobre um poema de Camões, publicado apenas um ano mais tarde.
Mas a editora decidiu abrir o baú das memórias, com a ajuda preciosa de estudiosos e de amigos da fadista tendo resultado na descoberta de dois temas inéditos – versões alternativas de músicas incluídas em For Your Delight – e ainda três importantes ensaios de Amália com Alain Oulman ao piano (1962) e uma extraordinária entrevista realizada, no mesmo ano, por Henrique Mendes à artista, Alain e David Mourão-Ferreira, sobre “estes novos fados”.
Curioso é o facto de David Mourão-Ferreira ter sido o autor de quatro das nove letras desse LP, Alain Oulman o compositor de sete músicas e Amália a intérprete de um repertório que causou a revolução no mundo do Fado. Esta descoberta que surgiu 40 anos depois permitiu aos apreciadores deste género musical compreender o grande passo que foi dado e a noção que estes três cúmplices tinham sobre o que estavam a fazer.
Com um som original restaurado e remasterizado em 24 bits, podemos chamar a Amália Rodrigues 1962 uma edição de luxo, onde a Amália que todos nós conhecemos é apresentada como poucas vezes a teremos podido observar de tão perto.